segunda-feira, novembro 24

(Seus) Olhos

Os olhos me dizem mais, bem mais que qualquer boca poderia me dizer.
Os olhos me olham, envolvidos, embriagados, e a embriaguez é boa, porque me embriaga, também.
Estes olhos que amo fazem do olhar algo demasiadamente verdadeiro.
Os olhos são compenetrados, carinhosos e transbordantes.
Admiro muito esses olhos, até por me admirarem tanto.
Sinto, por esses olhos, mais do que pode ser expresso por palavras, então converto as funções de minha boca, e ela já não fala, mas beija.
O beijo é sincero, porque a boca é sincera e os olhos são sinceros.
Nunca antes fui capaz de ver tanta sinceridade em um par de olhos.
Nesses olhos, vejo meus próprios olhos, mas da forma que os olhos os veem.
E sorrio com os olhos.
Com os seus olhos.
É engraçado como podemos morrer com um olhar.
Me sinto morrendo aos poucos, mas morrendo de felicidade.
É algo curioso: sinto-me prestes a explodir.
Explodir em gioia.
Sinto explodir em um sorriso, mas não me contento com tão pouco.
Deixo vazar dos meus olhos sobre seus olhos, e me preencho com tudo.
Tudo o que posso sentir em seu olhar.

"Meu amor, juro por Deus que a luz dos olhos meus já não pode esperar; quero a luz dos olhos meus na luz dos olhos teus, sem mais la-ra-ra-ra..." - Vinícius de Moraes

Beijocolates,
#V

sábado, novembro 1

Madrugada

E, na madrugada, acontece.


A cidade dorme, não se ouve nada. Todos fazem silêncio em seu sono profundo, tudo o que se ouve é o quase sempre abafado som do vento fazendo caminho entre árvores e janelas.
O barulho se restringe à minha cabeça. Dentro dela, tudo são gritos. É ensurdecedor, mas só eu posso ficar surda com a gritaria. É a minha poluição sonora particular.
Me deixa inquieta.
Não consigo dormir.
Nem calar meus pensamentos.
Estou ansiosa pela fervorosidade dos murmúrios que tomam o meu corpo inteiro. Algo deve ser feito a respeito disso, ninguém pode ficar nervoso assim, consigo mesmo.
O imediatismo também me mantém acordada. Eu queria me levantar da cama, apanhar as chaves do carro e só parar de dirigir quando estivesse em frente à sua casa. Então, sentiria minha alma abandonar meu corpo, amedrontada por incertezas, e tocaria a campainha.
Eu adoraria pôr um fim nesse barulho. O mais rápido que pudesse. Quero que a gritaria cesse, porque me impede de falar. Me faz ficar ausente de mim mesma, e ninguém gosta de conversar com alguém ausente de si mesmo.
Eu preciso conversar com ele. Ouvir sua voz.
Sua voz fará parar todo esse tormento dentro de mim. E, se não for suficiente, quem sabe a aurora me traga um pouco de paz...


"A noite é muito longa e eu dou plantão dos meus problemas que eu quero esquecer" - Kid Abelha


beijocolates,
#V

domingo, outubro 19

Prioridades

Eu estava agora a pouco brincando com o meu cachorro e ele insistentemente querendo o brinquedo novo que ele ganhou de dia das crianças, então eu dei o brinquedo a ele e fui comer. No momento em que o cachorro viu o sanduíche, ele largou o brinquedo e ficou me olhando com a maior cara de pidão. Tentei distraí-lo com o brinquedo, mas ele não tava nem aí, ele queria a comida, como sempre. E aí eu percebi que ele sempre larga qualquer coisa por comida... A prioridade dele, mesmo que inconsciente, é comer. Eu posso ter passado o dia inteiro dando comida de gente (que é o que ele quer) a ele e se eu aparecer com mais uma gostosura, ele come do mesmo jeito, porque é o que ele mais quer na vida: comida gostosa. Inclusive, se eu colocasse a cama dele, todos os brinquedos e tudo o que é tido como "dele" nessa casa de um lado, inclusive eu e a minha família, e derrubasse comida do outro, ele nem pensaria duas vezes sobre que lado iria, uma vez que, novamente, É O QUE ELE MAIS QUER.
E aí finalmente chego ao meu ponto: raros os humanos que largaram/largariam tudo o que têm em prol de sua prioridade absoluta.
Vejamos um exemplo.
Fulano é uma menina (não quero limitar gêneros aqui) que sabe com toda a certeza do mundo que, se ela tivesse pele verde e cabelo azul, seria plenamente feliz. O que ela mais quer na vida é ter pele verde e cabelo azul, do fundo do seu coração. Então, com o avanço da medicina/tecnologia/arte/enfim, surge uma forma de ela fazer uma operação pra ser verde e ter cabelo permanentemente azul e Fulano fica extasiada!
Fulano para e pensa "se eu fizer essa operação, todos vão me olhar estranho, meu namorado/minha namorada/meu gato não vai mais se sentir à vontade perto de mim, minha família pode ter vergonha, a operação pode não dar certo e eu teria que tentar de novo ou, na pior das hipóteses, eu posso até morrer". Pontos válidos, querida Fulano. Ou será que não?
As pessoas te olhando estranho é problema delas ou seu? Quem está incomodado com a sua aparência são os outros ou você? Porque eu acho que são os outros. A sociedade não deveria impor essas barreiras comportamentais e padrões estéticos sobre ninguém e você não deveria aceitá-los sendo impostos sobre a sua vida.
Seu/sua namoradx realmente gosta suficientemente de você pra te aceitar independente de decisões externas ao relacionamento de vocês? Se sim, essa pessoa não vai te deixar por você estar seguindo seu sonho e sendo feliz à sua maneira. Se ele te deixar, algum dia você encontrará alguém melhor.
Sua família te aceitará eventualmente se ela realmente te amar, afinal de contas, sua personalidade e suas memórias em conjunto não mudaram nada. A vergonha que eles talvez viessem a sentir de você, novamente, se reflete nos padrões impostos pela sociedade.
Se seu sonho é realmente esse, você não tentaria repetidas vezes fazer com que ele se concretizasse? Você não continuaria tentando e tentando alcançar seu objetivo principal da vida?
E, finalmente, até onde você iria pelos seus sonhos? Porque muitas pessoas usam o termo "farei isso ou morrerei tentando" e, na hora do 'vamo ver', dão pra trás. Será que Fulano prefere uma vida sem ir atrás do que ela mais quer, sabendo que existe uma forma de chegar lá, a morrer tentando?
Só acho isso.

Esse post não é sobre nenhum sonho específico meu, é sobre pessoas, em geral, com sonhos que não saem do papel.

"Don't give up, 'cause somewhere there's a place where we belong"
J

sábado, outubro 18

Ei, garoto

Venha, converse um pouco comigo
Em que está pensando?
O que quer fazer?

Venha, admire o horizonte por algum tempo
Percebe as maravilhas que se estendem aos olhos?

Venha, respire...
Absorva todo o ar que couber em seus pulmões
Consegue sentir?
Seu coração pulsando, e o sangue passando pelas veias, pelas artérias, por todo o corpo, irrigando-o com vida - consegue sentir?

Venha, me dê a mão
É cedo para tomar decisões, mas há um mundo fantástico a ser desbravado...

Vamos, sorria...
Sua beleza transborda no seu sorriso
E me contempla com uma doçura viva
Sem sequer perceber

Ei, garoto, converse comigo
Em que está pensando?
O que quer fazer?

Beijocolates,
#V

domingo, outubro 12

Mentirinhas

Dizemos, com frequência que somos confiáveis - jamais mentiríamos, somos amantes da verdade! Mas e quanto às sagradas mentiras de cada dia? Essas mentiras rotineiras, das quais nem nos damos conta... Mentimos, e somos vítimas de mentiras - mentiras brancas, brandas, sem importância, tão bem guardadas dentro de cada um de nós, que nos custa perceber, enfim, que não é verdade.
GOSTO DE VOCÊ * SÓ NÃO FAZ O MEU ESTILO * FOI ÓTIMO * ESTOU BEM * ADOREI * VOCÊ ESTÁ CERTO * CLARO QUE NÃO * NÃO HÁ ARGUMENTOS CONTRA * É UMA IDEIA EXCELENTE * HAHAHA * ESTÁ MARAVILHOSO * NADA ME FARIA MAIS FELIZ * NÃO ERA PRA SER * EU SEMPRE SOUBE * ENTENDI * TAMBÉM NÃO GOSTO DELE * NÃO HÁ COM O QUE SE PREOCUPAR...
Dizem que somos fortes - somos, mesmo? Quando fingimos indiferença a algo que nos machuca, abstraímos as lágrimas prestes a transbordar de nossos olhos e sorrimos para o que vier pela frente, estamos sendo fortes ou exímios mentirosos?
Chorar é sinal de fraqueza?
Dizem que somos inteligentes - somos, mesmo? Quando passamos a noite em claro, revisando nervos, forames e sulcos, sem conseguir entender bem o que está impresso em esquemas bidimensionais, mas, ainda assim, memorizando cada termo científico, estamos exercitando nossa habilidade cognitiva de assimilar um novo conhecimento ou apenas fazendo de conta, por algumas horas, que entendemos do assunto?
Dizem que somos belos, mas sobre que critério devo ser feio ou bonito? Qual o padrão errado que me faz esconder meu próprio corpo, por vergonha de suas supostas imperfeições?
Dizem que somos divertidos, que somos felizes, que contagiamos todos com o nosso bom humor - e que direito temos nós de impor a alegria a alguém? Temos, ainda, o direito de recorrer àquela "fraqueza" e chorar copiosamente, até que toda a infelicidade largue minhas células e eu alcance a paz?
Por que preciso estar sempre sorrindo?
Mentimos todos os dias. Com gestos, palavras e movimentos falaciosos. Tensionamos o abdome, erguemos o queixo, sorrimos e esperamos que alguém se importe.
Por que é tão importante que alguém se importe?

"Todos usamos máscaras, e o tempo vem quando não conseguimos removê-las sem remover nossa pele junto." – Andre Berthiaume

Beijocolates,
#V

quinta-feira, outubro 2

Voto Útil

Em quem você quer votar?
Em quem você vai votar?
São duas perguntas distintas, com respostas, infelizmente, distintas para a maioria brasileira - pela pouca fé. É interessante como tudo funciona em um paradoxo de medos e receios: quero votar em um candidato cuja popularidade está escassa, então opto por um dos que mais investiram em campanha política, que por isso ganhou fama, ainda que não concorde com suas propostas. Faço isso porque penso que ninguém mais vai votar nele, e por isso o meu voto será inútil. E tantos outros que votariam, por pensar da mesma forma, fazem vista grossa para escândalos dos "maiores" candidatos.

Em quem você não quer votar?
Em quem você não vai votar?
São duas perguntas distintas, com respostas, infelizmente, distintas para a maioria brasileira - pela pouca coragem. Porque eu tenho medo de votar em quem eu quero, procuro, entre aqueles cujos discursos soam copiosamente, em grande frequência, um "menos pior" que me garanta que aquele candidato que me faz nojo pelas falsas promessas não será eleito. Mas ainda estarei votando em quem eu não queria votar, porque pensei que quem me representa não era "forte" o suficiente - e por que estou votando, afinal?

Neste domingo, cumpriremos nossa obrigação nas urnas - cumpriremos? Teremos, nós, coragem de assumir nossos ideais e pressionar o conjunto de números que combina com aquilo pelo que brigávamos nas ruas?

Vote, mas não vote nulo, nem vote "por votar". Exprima sua opinião. Lute. Tente. Faça a sua parte e, se seus medos concretizarem-se em um futuro nem tão distante, continu fazendo. Exercer a cidadania é dever de todos nós - e não é dever bienal, só em dia de eleição.
É nosso dever lutar por nossos direitos todos os dias.

beijocolates,
#V

segunda-feira, setembro 29

Aquela necessidade


Caridade, voluntariados, envolvimentos com política e ativismos, alguns criando bandas, conquistando medalhas, viajando em projetos de desenvolvimento humano e até ficando em casa em projetos de desenvolvimento humano. Tem amigos vendendo suas criações, começando a ter uma perspectiva de vida adulta e é tudo bastante admirável, mas o que exatamente nos levou a essa mentalidade?
Quando estamos crescendo, fazemos varias coisas sem nos preocupar muito com o futuro. Por que nos preocuparíamos? A morte é uma coisa muito distante pra uma criança (pelo menos na realidade na qual fui criada). Em suas cabeças, crianças são imortais (e deveriam ser). Mas vamos crescendo e percebendo que não é bem assim... A vida é extremamente frágil e os planos sempre podem mudar, tudo é produto das condições. Visto isso, percebemos também que a qualquer momento podemos morrer, e a morte não é exatamente atrativa quando se percebe que não realizou nenhuma grande coisa na vida até então. Disso, surge a necessidade de fazer a diferença, de cativar pessoas e ser eternizado em memórias, discursos, citações, feitos e etc., qualquer coisa, realmente, que tenha um impacto nas pessoas ou até, pros mais influentes, no mundo.
Essa historia toda de fazer a diferença pode, se aplicada na direção certa, impulsionar o mundo pra frente. Ela faz as pessoas terem novas ideias, fazerem caridade, solucionarem problemas e/ou buscarem fazer o certo. Eu acho que posso dizer que estou começando, agora que acabou o colégio, a perceber isso nas pessoas que me cercam.
Se a natureza não impõe essa necessidade sobre algumas pessoas, sempre podemos contar com os discursos inspiradores de figuras como Gandhi, com seu "seja a mudança que você quer ver no mundo" ou Steve Jobs, com aquele discurso no qual disse "lembrar que eu vou morrer é a ferramenta mais importante que eu já encontrei pra me ajudar a fazer as grandes escolhas da vida" e várias outras pessoas que tenho certeza que devem ter saltado às mentes de quem me lê. Além, claro, daquela vez que você tava conversando com aquele seu amigo bem prafrentex e ele falou uma coisa do gênero também. Afinal, não precisa ser uma personalidade famosa pra ter uma mente brilhante.
Na verdade, não é preciso fazer nada de excepcional, muitas outras pessoas já devem ter feito aquilo que você tem em mente, mas o que importa é que o faça com um toque pessoal, algo que te identifique, que assine seu nome e naquele ato registre um traço da sua personalidade. O importante é não se omitir. Vemos tantas pessoas que evitam abrir a boca ou mexer um dedo com medo de críticas e reprovações, mas celebrando aqueles que o fazem, mas, no fim, a participação ativa em causas válidas contribui não só para o crescimento individual como pra o de toda a sociedade direta e indiretamente afetada pelo efeito borboleta de cada ideia posta em prática.
Acho que todos temos uma certa admiração e, no fundo, queremos ser Zumbi liderando ex-escravos aos quilombos, queremos ser Gandhi em greve de fome contra os ingleses, queremos ser Chico Buarque escrevendo músicas com mensagens inteligentes, queremos ser nós mesmos fazendo algo que nos faça ter certeza de que não foi tempo perdido. Somos tão jovens.

"tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé"
- Antoine de Saint-Exupèry
(tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas)

J

sábado, setembro 27

Ser Radical

Esses últimos anos certamente têm sido atribulados para um começo de século. Uma crise mundial. Uns vinte golpes de Estado. Protestos. A supremacia do mandarim sobre o inglês… Mas devo dizer: aqueles tais “radicais”, explodindo-se dia após dia, em nome da pátria, dos princípios e de qualquer outra questão sua, são problema maior.

Os dez ou doze carros explodidos por semana, e o mau hábito de atirar veículos voadores contra cartões postais são aspectos preocupantes nos dias atuais, sim, mas a motivação de tais atos pavorosos são ainda mais.
O que vêm à sua cabeça quando alguém diz ser radical? Pode ser que, no contexto do brasileiro, não um homem-bomba. Talvez um militante do PSol. Um jovem anarquista. Ou ainda (por que não?) uma manobra perigosa de skate.
Mas o que, afinal, é radicalismo?
Radicalismo, segundo a definição que nos dão os próprios “radicais”, é ir até a raíz, até o fundo das questões. É se debruçar sobre um problema e procurar sua gênese, fazendo o máximo possível para encerrá-lo, mesmo que isso fira alguns - ou muitos - interesses. Ora, mas, por este significado, se formos um pouquinho egoístas, seremos todos radicais! Mas até que ponto iríamos por uma ideia? Pintaríamos muros ou morreríamos por nossos princípios?
É aí que deve-se distinguir radicalismo de sectarismo.
O sectário é o radical que passou dos limites: ele toma sua posição como verdadeira e absoluta, e não mede esforços para propagá-la; é intolerante, fechado a diálogos: não quer conversa. E vem sendo confundido com o radical que não achou mortes e estupros uma boa propaganda.
A simbiose entre paixão e terror vem sendo difundida como harmônica pelos intolerantes. Para a grande massa, pouco crítica, que recebe, indignada, seu jornal parcial de domingo, o universitário inconformado com a política de seu país parece estar perigosamente próximo de tomar uma medida drástica. Sectarismo e radicalismo se fundem no senso comum. Na hora em que um manifestante começa a gritar palavras de ordem, elas passam a ser confundidas com os gritos do Terror, e fecha-se o debate. A própria sociedade se torna aquilo que repudia, ao tapar os ouvidos em nome de uma pretensa autodefesa.
Fico, por exemplo, extremamente consternado na hora em que a mídia chama de “terroristas” os meninos que explodiram um rojão em um pobre cinegrafista. Entre a bomba que eles estouraram e a dos sectários islâmicos existia uma enorme distância, mesmo que o mecanismo básico (e, em última instância, os resultados finais) tenham sido os mesmos. Ambos são dispositivos que, uma vez, acesos, lançam estilhaços e chamas por todos os lados. O porquê de terem sido acesos, entretanto, muda radicalmente: enquanto o terrorista o faz para matar o maior número de pessoas possível, para causar o terror, os jovens visavam afastar a polícia, combater o terror. Não havia aí o traço de intolerância que pressupõe o sectarismo, a intenção de calar um problema latente. 
Imagine que estamos em uma roda, brincando de “batata quente”. O calor do tubérculo nos queima as mãos, e por isso não podemos segurá-la por muito tempo. O convencional joga a batata para um outro que esteja ao seu lado. O radical corre com a batata em mãos, ainda queimando seus dedos, e a mergulha em água fria. O sectário, por outro lado, a joga no chão, pisa, e diz que não quer mais brincar.
Lhes parece justo confundir quem reage tão diferentemente à posse de um tubérculo a altas temperaturas?

Breno

quinta-feira, setembro 25

Curta empatia

"Me vire ao avesso, me ponha de cabeça pra baixo e tente entender as coisas como eu as vejo..." - Gomez
#V

segunda-feira, setembro 22

Descartando

Uma vez, a mãe de uma amiga minha me disse que tudo o que a gente realmente quer para as nossas vidas eventualmente acontece. Obviamente, eu questionei, mas, depois de perceber alguns exemplos na minha própria vida, percebi que, com um minimo de esforço sincero na direção certa, as coisas acontecem e acho isso simplesmente o máximo. Não sei se tem alguma evidencia espectral-filosófica ou científica de que isso acontece, tenho quase certeza de que nada confirma, mas é uma forma bastante positiva de se olhar a vida e se questionar o que você REALMENTE quer para si, sabe? O que você sabe que PRECISA fazer acontecer pra ser feliz e satisfeito consigo mesmo?

Meu cérebro de madrugada vai de um lado pro outro e eu tava agora a pouco pensando sobre aquela historia de Descartes de que Deus existe porque é perfeito, e, se ele é perfeito, ele tem a perfeição da existência. Mas aí é que tá: existir implica em viver? Alguém que já morreu pode ser dito "existente"? Algo que nunca viveu pode ser dito "morto"? Acabei de pesquisar aqui e achei que "vida significa existência. É o estado de atividade incessante comum aos seres organizados. É o período que decorre entre o nascimento e a morte". Certo, então. Se Deus é eterno, nunca nasceu e nunca morrerá, portanto não tem vida. Se a morte é a ausência de vida, então Deus estaria morto... Mas se vida significa existência, algo morto imediatamente deixaria de existir? Um pedaço de pedra, então, seria ilusório, inexistente no plano real, por não possuir vida? Deus, então, seria como o pedaço de pedra em questão? Ilusório e existente apenas no intelecto? Faz sentido, exceto pelo fato de que cada célula dos nossos corpos é formada por partículas infinitamente menores que, isoladas, poderiam ser consideradas mortas e, portanto, ilusórias. Como seres 'reais' como os humanos poderiam ser compostos de infinitas partes ilusórias e inexistentes? Então seríamos somente ideias, uns nas cabeças dos outros? Mas quem garante que sequer existem outros? O que nos garante que toda a vida e mundo e realidade que pensamos conhecer não é só o fruto da imaginação do primeiro ser pensante de todos os tempos? Quem garante que TUDO não é só uma farpa da poderosa imaginação do "criador" e "Deus" não é apenas a forma como a mente pensante quer que todos os seres que ela imaginou se refiram a ela?
Claro que a teoria de Descartes não é a unica existente e, como ser humano, ele pode facilmente ter criado uma teoria falha e cheia de brechas. Não vou ficar aqui analisando cada pensador e cada teoria, até por desconhecer a grande maioria delas, mas principalmente por causa do sono.
Vou sair só depois desse pensamento: Se a grande mente pensante tivesse um personagem em foco, você, por que ela não faria da sua vida a mais perfeita possível? E outro: se você não for o personagem principal da mente pensante, o que te faz pensar que ela te daria consciência pra pensar qualquer uma dessas coisas? Mas, de novo, a perfeição sequer existe? É uma ideia tão abstrata e distante que nem milênios de humanidade conseguiram definir propriamente em nada que não fosse o chamado "Deus". Sendo que, pelo que eu percebi em experiencias e contatos com diferentes pessoas, o deus de cada pessoa tem traços diferentes e propósitos diferentes. Quem garante que o que chamamos de "deus" não é pura e simplesmente nossa própria consciência, nossos ego e super-ego combinados? Será possível que as religiões nada mais sejam do que pessoas que são regidas pelos mesmos princípios se reunindo pra louvar o quanto suas mentes pensam parecido?

Quero deixar claro que eu tenho ideias mais bem formadas sobre as coisas do que isso. Esses foram só questionamentos pra contestar o pensamento do qual discordo, não deixam de ser questões válidas a se considerar...


#J

sábado, setembro 20

Políticas Pudicas

Época de eleições. Os ânimos se acirram, comitês se espalham por toda cidade... Cavaletes, balões e folhetos ocupam nossa visão, com propostas de mais saúde, mais educação, mais renda - como se nunca tivéssemos ouvido isso antes!
No meio de tanto conteúdo e debate, perguntas tendem a aflorar. Todos estamos curiosos para saber mais sobre o Sr. Político - sobre sua habilidade administrativa, sobre sua preocupação com a precariedade de nossos hospitais e sobre aquela aparição do irmão do Sr. Político nas enquetes de fofoca. Mas julgamos, sem nos dar conta, o Sr. Político pelo sorriso pouco convincente em campanha, imaginando, sem abusar de nossa criatividade, que a motivação escassa dele seja por falta de sexo.
SEXOPOLÍTICASEXO
Por que seria tão importante saber se meu candidato tem uma vida sexual ativa ou não?
Talvez boa parte da resposta possa ser encontrada numa análise da imagem de um celibatário perante a sociedade: para o ser humano regular, o que implica uma pessoa que não explora sua sexualidade? Seriam pessoas bem frustradas, que descarregariam a energia sexual acumulada em alguma obsessão. Seriam pessoas infelizes – e é justamente aí que jaz o problema: não confiamos em quem não expressa as próprias felicidade e satisfação.
Se um candidato se mostrasse pouco entusiasmado ou sorridente, você votaria nele?
Deixemos de lado os preceitos do celibato. O Sr. Político, assim como qualquer outro que possa abster-se de atividades sexuais, não precisa ser encaixado em nenhum estereótipo. Ele é apenas ele mesmo, e seu carisma, sua oratória, o uso de seus músculos faciais, nada nos diz em julgamento de sua capacidade de exercer brilhantemente sua função nos representando,
O fato é que, na verdade, transar ou não não faz a menor diferença na boa governança de uma pessoa. Compromisso, consistência e boas propostas, essas sim são as marcas do bom político; além, é claro, da notória “vontade política”, ironicamente ausente em boa parte de nossos candidatos.
Mas, então, por que questionar atividade sexual é tão importante? É uma questão chula, indiscreta... Ela denota um certo grau de intimidade com o político, mostra a liberdade que todos nós deveríamos ter de questioná-lo e, enquanto não formos autorizados a colocar qualquer pergunta que acharmos relevante a nossos políticos, não nos sentiremos representados, e não seremos representados.
O sexo não rege nossas vidas, e muito menos um grande cargo representativo. Não são celibatários, afinal, os que coordenam um dos maiores órgãos de caridade do mundo? Ainda assim, paralelo a isso, o que nos faz felizes, se não a ideia de liberdade?
 Breno

quinta-feira, setembro 18

Querer alguém

este texto foi confeccionado sob efeito de sono
É comum querer um bom romance. Em algum ponto de nossas vidas, já quisemos, desesperadamente, sentir o calor dos dedos de um certo alguém em nossas mão. Sonhamos com o toque hesitante, com os sorrisos provocadores, com os segredos, com o mundo próprio do casal, que parece surgir em torno de um beijo apaixonado. Sonhamos, e sonhamos alto. Vemos, claramente, todas as vantagens de uma boa e amada companhia em uma tarde tediosa de domingo. Mas, se uma historia de amor pode ser tão boa assim...

POR QUE NÃO NAMORAR?
Por proposta de um professor, a turma teve de dialogar sobre os relacionamentos amorosos passados. Fui inquerida sobre o meu namoro e, finalmente, após cinco anos, me dei conta da razão de termos acabado: eu não gostava das obrigações. Me perguntaram, então, o que mudou desde então. Pensei, pensei... e descobri que não mudou muita coisa: continuo detestando a ideia de ter que falar com alguém todos os dias e ter que atender ao telefone todas as vezes que esse certo alguém ligar. O comprometimento não lhes parece tedioso?
Há desejos e necessidades que devemos suprir de alguma forma. Momentos e olhares que devemos compartilhar com alguém. Então a nossa cultura inovadora e ousada nos apresenta uma solução: o sexo casual. A modo amplo, condeno o envolvimento compulsivo com estranhos, mas que mal faz aprofundar uma velha amizade?
A amizade colorida faz sucesso aos sussurros. É secreta. Ninguém anuncia que andou prensando o melhor amigo contra a parede -  e por quê? Porque não há compromisso. Podemos dar atenção aos nossos apelos sexuais e nem precisamos falar por horas ao telefone sobre como foi o nosso dia. Mas será essa a resposta para todos os nossos desejos? Por algum tempo, é capaz que os beijos livres nos supram em todos os aspectos, mas, em algum ponto de nossas vidas, perceberemos que há algo mais. Enquanto indivíduos, temos apelos que transcendem o plano físico. Precisamos sentir o perfume que não é nosso no travesseiro com o qual dormimos e sorrir, memorando algum sorriso atraente e distinto que o dono daquele cheiro nos abriu. Podemos chamar de carência, mas não me apegarei a ela.
Me dou conta, hoje, que não me canso de falar com os meus amigos. Falo com eles todos os dias e sou capaz de passar horas conversando bobagens, ainda que esteja com sono ou mal humorada. Não me parece esforço algum atendê-los, e me recordo facilmente deles se ouço determinadas músicas ou como determinadas coisas. São meus amigos, e sinto prazer em fazer tudo aquilo que me custa tanto a fazer com um namorado. O compromisso é diferente? Só porque não beijo esses amigos aos finais de semana, a rotina tediosa é, de repente, empolgante?
Conhecemos bem a amizade com benefícios. Mas e os benefícios com a amizade?
Penso que, se conseguisse converter uma grande amizade em um namoro, seria maravilhoso. Teríamos liberdade para falar e fazer qualquer coisa, sem receio algum, e seria tão divertido quanto o relacionamento aberto sobre o qual falei, exceto, é claro, pela questão da abertura. Mas quantos anos nos demanda solidificar uma amizade assim? E por quantos de nossos amigos sentimos a tal da atração?
Muitos são os defensores da friendzone. Afinal, isso sequer existe? A amizade pode impedir, de alguma forma, a atração entre duas pessoas?
Muitas perguntas sem resposta, muitas respostas sem pergunta e muitas incertezas sobre certezas, mas uma clara ilusão de certeza: por enquanto, estou muito bem sem ter que segurar a mão de ninguém.

"One more fucking love song, I'll be sick" - Maroon 5

beijocolates,
#V

segunda-feira, setembro 15

Será que alguém cobriu os biscoitos?

Às vezes eu me pego pensando em como tudo seria tão mais simples se eu seguisse os planos, os planos óbvios que são receita pra o sucesso, do tipo estudar rotineiramente e manter o assunto em dia, não passar a tarde toda na internet, dormir cedo pra não ficar com sono na aula, etc. Mas nunca é tão simples quanto parece, sempre aparecem "coisas" e motivos pra sair do planejamento inicial.
Então... Um dia desses duas amigas minhas vieram aqui em casa passar um tempo, bater um papo e, pra mim, tirar a cabeça de algumas coisas. Fomos no mercado comprar ingredientes e passamos a tarde na cozinha ouvindo musica alta, cortando chocolate, batendo massa e fazendo cookies (tenho certeza de que existem fotos no celular de alguma de nós). Conversamos sobre dramas recentes e festas futuras, queimamos duas fornadas de biscoitos e fizemos o bolo do aniversário do meu pai (e é assim que nos mantemos em forma).
O ponto do post não é guloseimas assadas, isso foi só explicando como os cookies chegaram na minha mesa, porque, desde que todos foram dormir e todas as luzes da casa estão apagadas (menos a do meu quarto), a única coisa que passa pela minha cabeça é "será que alguém cobriu os biscoitos?". De verdade, imagina que lástima seria termos passado a tarde toda fazendo todos esses cookies pra as formigas devorarem-os? Eu não posso ser a única que fica noiada com algumas coisas antes de dormir, certo? Coisas que eu teria como resolver, mas bate aquela preguiça ou medo da casa em breu ou até a decepção de me dispor a levantar e ir até a cozinha só pra descobrir que, de fato, os biscoitos haviam sido cobertos...
Talvez eu não faça isso somente antes de dormir, até porque amanhã recomeçam minhas aulas e já bateu aquele sentimento de não ter realizado nem metade das coisas em uma das minhas listinhas do que fazer durante as férias. Não li aqueles mil livros nem assisti aquelas vinte séries ou aqueles vários filmes cabeça que me fariam questionar a vida, o universo e tudo mais. Passei a primeira metade das férias quase sem pisar em casa, todos os dias na casa de Vic (fazendo cookies) ou ocupada e conhecendo gente nova, o que foi ótimo, mas fora dos planejamentos. A segunda metade eu passei em casa, num extremo oposto, procrastinando, descobrindo novos canais no youtube e mal fazendo qualquer outra coisa, sem "interessâncias" nem nada além de conflitos internos de quem fica ocioso demais. Não há motivos pra eu simplesmente ficar em casa sem fazer nada (esses motivos nunca existem, não é mesmo?). Por mais que eu tente justificar dizendo que eu estava cansada dos meses de aula, mas não estava, eu estava só naquela preguiça de fazer algo, medo de fazer e acontecer algo de ruim ou até a decepção de me dispor a fazer algo, me dar ao trabalho de me esforçar só pra descobrir que o esforço foi em vão, que não fez nenhuma diferença...
É o peso de medo sobre medo que nos puxa pra baixo e nos faz não fazer o que sabemos que devemos. No dia seguinte, eu fui na cozinha quando acordei e os biscoitos estavam cobertos, mas isso não me impediu de me preocupar, e a preocupação não me impulsionou a fazer algo a respeito, mas a falta de impulso não impediu o problema de ser resolvido por outra pessoa. Talvez fosse uma lição melhor se as formigas os tivessem devorado.

"Do you like the person you've become under the weight of living?"

#J

quinta-feira, setembro 11

Tiramisù!

São momentos raros, mas são momentos desesperadores, estes em que sentimos a própria fraqueza nos sufocar. Os músculos não se movem, e o ar custa a entrar. Ficamos imóveis, incapazes de enxugar as lágrimas que escorrem, amargas, pelo rosto. Nos sentimos tão frágeis e indefesos, que a ideia de obter qualquer solução ao problema parece ridícula.
Precisamos de ajuda. Mas que tipo de ajuda?
Meu quarto está bagunçado. Deixei a roupa do balé jogada por cima da cama, onde já estavam a caixa dos meus mocassins novos, as calças jeans que usei mais cedo, os comprovantes de matrícula do curso de Inglês e a papelada das vacinas que andei tomando. Só me dei conta agora de que as visitas viram as minhas calcinhas penduradas pelo banheiro, e sei que, dentro de dois dias, não caberá mais nada na escrivaninha. Quando a bagunça realmente me atrapalhar, vou prestar atenção nela e começar a desfazê-la. Vou tirar um dia para organizar o meu quarto, embora saiba que levarei apenas uma ou duas semanas para me deparar mais uma vez com a desordem. É curioso que só consigamos resolver nossos problemas quando alcançam um grande grau de complexidade, e, do mesmo modo, parece que precisamos chegar ao fundo do poço para conseguir nos reerguer.
Muitos se orgulham por serem "lobos solitários". Dizem, com um sorriso no rosto, que não precisam de conforto, porque podem consolar a si mesmos. Sendo eles seres humanos, animais naturalmente codependentes, não poderiam estar mais enganados. É importante que choremos tudo o que temos para chorar, ainda que fiquemos desidratados e com dor de cabeça. Podemos chorar sozinhos - e choramos. Mas jamais seremos capazes de avaliar e compreender uma situação na qual estamos tão imersos, não sem companhia.
Quando admitimos a nossa vulnerabilidade para alguém, sentimos o rosto queimar de dentro para fora; nossos olhos umedecem, nos chega um pouco de vertigem e podemos sentir os batimentos cardíacos em nossas orelhas. Parecem sintomas familiares? "A vergonha é, por natureza, reconhecimento. Reconheço que sou como o outro me vê... Assim, a vergonha é vergonha de si mesmo diante do outro: essas duas estruturas são inseparáveis. Porém, ao mesmo tempo, preciso do outro para perceber plenamente todas as estruturas do meu ser" disse Carl Schneider.
Precisamos do outro.
O outro não é qualquer outro, devemos selecioná-lo com cautela. Quando um católico procura um padre para confessar os seus pecados, está fazendo do padre o seu ouvinte, e espera que, expondo-se a ele, obtenha respostas para os próprios erros. Se você opta por um psicanalista, também espera que ele o ajude a se descobrir como indivíduo... Mas esqueça a experiência, o profissionalismo e a sabedoria: somos jovens. Somos teimosos. Somos amigos.
Quando estamos encolhidos sob nossas cobertas, sem sequer conseguir falar direito, esticamos nossos braços, alcançamos o telefone e pedimos socorro para aquele único amigo que nos viu chorar. Esperamos que ele entenda nossa voz engasgada, e nos encolhemos ainda mais sobre a cama - bem antes de suspirarmos, alongarmos nossos membros e relaxar. A voz do outro soa ao telefone, e uma certa paz se desenvolve dentro de nós. As palavras erradas e desajeitadas do amigo nos sossegam porque, de repente, nos damos conta de que não estamos sós. E não há nada melhor que descobrir que não estamos sozinhos nesse mundo gigantesco de tecnologia e preocupação.
Sobre o tiramisù, bem, não tenho certeza de como aconteceu, mas penso que tenha sido um dia difícil para um certo alguém. Imagino que tenha chegado exausto àquele pequeno restaurante e sorrido à primeira garfada daquela sobremesa estranha. "Questo tirami sù" deve ter dito, e quis dizer, em italiano, "isto me faz feliz". Acredito em sua real felicidade naquele exato momento, mas há doçura que nos agrade além do paladar.
Mais que qualquer sobremesa do mundo, a amizade é essa coisa gostosa que alivia o coração.

Beijocolates,
#V

segunda-feira, setembro 8

Novidades

Então, né... Finalmente resolvemos estabelecer alguma responsabilidade em relação ao blog e chegamos ao acordo de que cada uma postará conteúdo novo em um dia específico.
Podem esperar postagens sabor baunilha todas as segundas-feiras, e sabor chocolate todas as quintas!

Uhul!
(gritos eufóricos ao fundo)

Estamos ambas começando uma nova fase: Vic entrando na faculdade e eu indo pra um segundo, e ainda mais difícil, período, então por que não encher ainda mais nossas agendas com uma responsabilidade extra? Mas, falando sério agora, eu sou muito mais produtiva quando eu boto na cabeça que não vou ter tempo de fazer tudo o que preciso a não ser que eu siga um determinado cronograma, então espero que isso funcione como um incentivo de alguma forma...
Não sei se essa postagem já conta como um novo começo de era de gente fina, elegante e sincera, já que é uma segunda-feira e aqui estou eu postando alguma coisa... mas consideremos que sim...


Let the games begin

#J

domingo, setembro 7

Algo

Balanço, balança, peso, cadeira, sofá.
Balance, balance, respire, suspire, acompanhe.
Hesite, sorria, hesite, respire, suspire, deixe chegar...

Questione, mostre, experimente, recuse e sorria.

Observe.

Observe o olhar fixo, turvo, dilatado, e condenado.
Tome uma dose de ar.

Certeza, dúvida, mas seu olhar está vidrado.
Um sorriso comedido, torto, sacana e amado.


Pesa e puxa, faz-se sentir.
Prenda, relaxe e solte o ar.
Prenda, segure, não deixe ir.

Não deixa ir embora, que ainda é cedo!
Embora, nessas horas loucas da vida, nunca seja tarde ou cedo demais para amar.

#V

sábado, julho 26

Ao desconhecido daquela vez

Andei pensando bastante em você e resolvi escrever uma carta, mas lembrei que não sei qual o número do seu prédio, nem onde fica o seu quarto, e fiquei triste pela lembrança, porque tudo é diferente desde você, mas não tem você no meu antes nem no meu depois, só no meu "aquela vez". Eu precisava lhe agradecer muito seria e sinceramente, porque você entrou naquele Rui Barbosa vazio e escolheu sentar ao meu lado. Preciso confessar que, bem antes que você me visse, eu vi você, e já senti as bochechas queimarem, pedindo a Deus que, por favor, te colocasse no mesmo banco que eu, apesar de, depois de uma espiada rápida, eu ter descoberto que só havia mais quatro pessoas ocupando o ônibus (sem contar, é claro, com o motorista e o cobrador). As esperanças eram tão vagas que eu quase desmaiei com a adrenalina que correu por minhas veias quando você sentou coladinho em mim. "Obrigada, Deus, mas... e o que eu faço agora?" Eu nunca na minha vida tinha puxado papo com gente desconhecida. Não assim, daquele jeito. Desejava bom dia a todos que encontrasse pela frente e não negava muitos favores a quem me pedisse, mas conversar, assim, sem aviso prévio? Durante aquele ano, minhas canetas Bic só duraram duas semanas, cada uma. Fiquei encarando a tinta azul na minha calça do uniforme, esperando que os desenhos e as frases fossem o suficiente pra você me achar legal, mas não conseguia parar de me mexer, revirando os cadernos, mexendo na minha mochila, nos cabelos, olhando pelas janelas... Fiquei observando seus gestos e suas atitudes, ainda fingindo não olhar. Você parecia tão ocupado quanto eu, revirando todo o conteúdo da bolsa-carteiro, folheando livros, consultando o relógio sem parar. Tem uma coisa estranha que acontece com a gente quando a gente quer falar. Um calorzinho frio que sobe pelo corpo e deixa a gente meio tonta, nervosa, sem saber bem o que vai sair da boca, mas com a certeza da necessidade que a gente tem de abrir a boca e deixar sair. Eu já tinha respirado fundo duas ou três vezes quando você revelou uma apostila de Alemão, e tenho certeza que você queria que eu visse que você a estava portando em mãos, porque sabia que você sabia que eu estava olhando para você quando demorou mais tempo que o necessário analisando a capa. Depois, passou uns 40s lendo uma página de exercícios totalmente aleatória, até eu me animar e perguntar se você estudava o idioma. A apostila foi desprezada tão depressa que eu até fiquei um pouco sem graça, porque o rumo da conversa mudou abruptamente para cursos de graduação. Eu estava esperando que você me ensinasse algo além do Saukerl que eu tinha aprendido recentemente com "A menina que roubava livros", mas acabei embarcando em uma discussão terrível sobre o meu futuro, e eu não queria falar mais sobre ele, mas você me fez falar. E disse que eu deveria cursar Medicina, para depois me especializar em Psiquiatria, como tantas pessoas antes me disseram que eu deveria fazer. Eu quase fiquei triste por essa sua atitude, mas deixei você falar, porque era incrível falar tanto com alguém que eu tinha conhecido no ônibus. Foi tão incrível que eu quase perdi o meu ponto, mas o encontrei a tempo, sorri, disse que tinha sido um prazer, e fiz tudo tão nervosa, porque não sabia se devia lhe beijar, ou abraçar, ou apertar a sua mão. Você ficou me olhando, meio sem jeito, e o tempo começou a parecer bem pegajoso depois que eu já estava de costas para você e a porta não abria. Foi quando eu saí, empolgadíssima, que eu me dei conta que não sabia seu nome. Nem você sabia o meu. Que mancada... Só que, depois daquela vez, resolvi falar mais. Sentar ao lado das pessoas, perguntar o que elas faziam para serem felizes, rir um pouco, descobrir maravilhas... Eu quase sempre esqueço de perguntar nomes, mas, às vezes, a pessoa com quem decidi partilhar um breve momento cotidiano lembra da cordialidade, sorri pra mim e descobre quem é Victoria. Há algumas pessoas realmente fantásticas por aí - outras, nem tanto -, mas queeia lhe agradecer por todos os "olá"s divertidos que já recebi. Não sei seu nome, não conheço a sua rua, mas sei quem foi você daquela vez, aquela que não teve passado, nem futuro - por enquanto. Quem sabe a gente se esbarra por aí! beijocolates, #V

terça-feira, julho 15

"explique a falta de meninas na minha vida"

Bem, eu não lhe conheço e nem espero que aceite o meu convite para o jantar, mas você vem se torturando com algumas perguntas cujas respostas você já tem. Não usarei a palavra "culpa" com você, porque sei que é um termo errado, negativo e desnecessário, principalmente se empregado em uma primeira conversa, mas vou ter que lhe dizer uma coisa: você procura um porquê, e não posso mentir, afirmando que desvendar causas é ato prazeroso.
Não sei quais são as suas intenções com todas essas meninas que faltam à sua vida, mas não posso lhe culpar se não teve coragem para dizer à amiga da sua prima quão nublado estava o dia - mulheres são caixinhas de surpresas, afinal.
Você gosta de surpresas?
Soube que você tem uma amiga. Talvez você tenha mais. Talvez não. Se você estiver procurando uma nova amiga, posso lhe dizer que é fácil encontrá-la. É possível que ela esteja lendo um livro interessante quando acontecer, e você vai poder perguntar a ela se vale a pena gastar seus olhos com letras tão miúdas. Caso seja só uma enciclopédia chata de Economia, vocês poderão rir sem ter que fingir que lamentam você ter interrompido a leitura. Conversem, mantenham o contato e lá estará: mais uma amiga para a coleção.
Se amigas não são problema e você as tem em número significativo, mas questiona a inexistência de uma namorada, eu peço que tome cuidado. É muito bom ter amigos, é verdade.
Uma namorada exige um pouco mais de dedicação... Preciso que preste atenção e tome cuidado, para não cometer os mesmos erros que eu. É bom ter amigos, mas que tipo de amigo é você? Porque, se é o amigo confidente que passa horas ao telefone com alguma amiga cujo relacionamento está em crise, começo a me preocupar com as causas que você estava procurando...
Sabe? Eu não acredito nessa coisa de "friendzone", acredito em atração. Se alguém atrair sua atenção, não importa se vocês se tornam amigos mais tarde ou não, aquele alguém continua sendo atraente a seus olhos - a menos, é claro, que a amizade revele defeitos e modos que não lhe agradam por nada. Desenvolver no outro um interesse por você pode até ser complicado, mas ser o conselheiro amoroso da pessoa em questão não anula qualquer obstáculo.
Enquanto você lê esse texto, milhares de garotas espalhadas pelo planeta reclamam da falta de garotos em suas vidas. Você acha que eles realmente estão em falta? Se existem tantas meninas procurando meninos e tantos meninos procurando meninas, por que eles não conseguem se encontrar?
Olhe bem para mim: nos conhecemos? Posso parecer familiar, não já nos vimos antes?
Saia de casa. Passeie pelo parque, conte quantas garotas cruzam seu caminho e, quando entrar em casa, me dê o número. Dez? Mais? Com quantas você falou?
Não culpe as estrelas, não culpe os planos de Deus, não culpe o destino, não se culpe - não há culpa. Mas há responsabilidade. Não há sentido em lamentar-se da cegueira, quando é opção sua não enxergar. Experimente abrir um dos olhos e, se gostar do que vê, experimente abrir os dois. Deseje bom dia para a próxima garota em quem esbarrar, sorria para uma outra que espere tediosamente sua vez de ser atendida, pergunte que horas são à que está olhando distraída pela janela do ônibus e pergunte àquela do livro chato de Economia se ela quer tomar um sorvete. Por que não? Se permita ver, observe as cores, sinta o sol incomodar, imagine outras paisagens e, quando quiser a fechar os olhos, se permita repousá-los. Lhe peço, apenas, que não tenha medo de voltar a abri-los.

"Só sei que, mesmo quando o destino precisa se cumprir, ele não pode fazer isso sozinho." - Ironias do Amor

Beijocolates,
#V

domingo, junho 29

Você(s)

Eu não tenho um remetente específico, então resolvi falar com você. Você talvez não seja exatamente o culpado, mas deve ter culpa por alguma coisa, ou eu não estaria falando com você. Eu nem sei por onde começar, porque você, apesar de não ter feito nada, fez muitas coisas... Tem muita coisa engasgada, sabe? E acho que eu preciso colocar pra fora, porque nem sempre o que a gente põe na boca dá pra engolir.
Você devia parar de sair com ela, porque eu nem gosto dela nem gosto de você com ela, e, se eu souber que você está com ela, quando me disse que não estaria com ela, eu vou ficar realmente chateada, mais chateada do que eu já estou. Estou chateada porque você ficou chateado por ela ter ficado chateada e ter dito que você a estava usando, porque acho que eu fui usada também. E ser usada não é bem a minha praia.
Ser usada não é a praia de ninguém. Eu sei que não era a sua intenção (nunca é, afinal), mas, nessa brincadeira, você acabou magoando muita gente... Lembra da desengonçada? Fico me perguntando se ela superou o seu namoro ou se ainda chora escondida pelos parques... Certo, me desculpe. Prometi que iria lhe perdoar, e cá estou eu, falando de seus erros.
Mas você tinha mesmo que fazer aquele drama todo por mensagens indiretas?
Eu não sei o que você quer, e, na maior parte do tempo, isso é bem desagradável pra mim. Eu tento, juro que tento, mas não consigo fazer mais sem uma bola de cristal ou um tarô de qualidade. As conversas rebabadas que você mantém me deixam desesperada, sem saber ao certo o que fazer. Devo continuar, ou pedir que pare? Me perdoe por ter pedido para parar, mas tanta gente para sem declarar que parou, que eu parei de esperar a parada parar por si própria, entende? Como quando você me deixou falando sozinha depois de ter chorado saudades no meu ouvido. Isso não é justo: me fazer sentir culpada. Eu não posso ser a culpada, porque a culpa me destruiria.
Assim como ela lhe destruiu... Eu vi você chorando, e fingi que estava tudo bem, mas, quando voltei correndo para casa, comecei a chorar, também, porque eu sabia que suas lágrimas eram por mim. Se você não queria ter corrompido aquele segredo, deveria ter sido um pouco mais cauteloso. Também fiquei preocupada quando lhe vi chorar tantas vezes e tão frequentemente, mas não tive vontade de chorar, porque eu sabia que aquelas lágrimas não eram para mim. Talvez tudo fosse melhor se você deixasse que eu visse as suas lágrimas, e, se me fizesse entender a razão do choro, eu poderia enxugá-las, e você não seria mais julgado como é, nem ficaria tão chateado quando descobrisse que estava sendo julgado.
Eu adoraria abraçar você, mas tenho medo dos destinos que um abraço pode ter. Eu tenho medo de pensar demais sobre abraços, ou sobre beijos, mas nada me amedontra tanto quanto pensar sobre os seus abraços. Você não deveria ter estragado o meu momento mágico, e você estragou. Eu também estraguei, porque participei do momento errado, mas isso não justifica nada, porque você só estava triste por ela pensar que você a usa - e ela está certa -, mas não me deixou ver a sua vontade de chorar.
Seria mais fácil ter dito a verdade, não acha?
Estou preocupada com você, porque você quer casar com ela, mas ela não passa um dia sem chorar ou beber alguma coisa. Ela é uma pessoa complicada, não é culpa sua. A culpa só é sua se você admitir que a está usando. Então pare de usar. Deixe ela passar, se não gostar de você, e encontre a pessoa que gaste horas de sono pensando em você. Ame-se a si próprio, com todas as redundâncias possíveis, e sorria para a possibilidade de tê-la, ter essa garota especial, a do primeiro beijo, por perto.
Estou torcendo para a sua namorada não passar um xaveco na minha melhor amiga uma segunda vez.
Você não existe, mas seria engraçado se existisse. Porque, com tantos remendos alheios, acabaria transformando-se em um buraco negro. Ver pessoas transformarem-se em buracos negros não deve ser particularmente engraçado, principalmente se estivermos a pouca distância quando tudo for engolido. Agora, chega, preciso ir. Espero que você sonhe comigo, ou que eu não perturbe seu sono. Tendo a certeza de um pesadelo com você, desejo apenas que nossa noite seja doce, como eram aqueles abraços gelados de novembro...

"To ask you this much is just a matter of trust, not an affront: what do you want?" - Gotye

Beijocolates,
#V

sexta-feira, junho 13

Coisa

À medida que revelo a boa coisa, o bom da coisa se esvai.
Não sei se penso na coisa, para por energia na coisa, ou se finjo esquecer a coisa, para me surpreender se a coisa acontecer ou me mostrar indiferente ao fracasso da coisa.
Eu queria que a coisa fosse um sucesso, mas não estaria pronta se a coisa não o fosse.
Vivo pensando em não pensar na coisa, desde que a coisa aconteceu.
Será que você também pensa na coisa?
Uma certeza sobre a coisa: a coisa é a coisa e jamais poderá ser uma não-coisa.
Uma incerteza sobre a coisa: a coisa existe?
Revejo a coisa muitas vezes, mas cada vez é uma coisa diferente - às vezes a coisa é fantástica, às vezes a coisa é ordinária e irrelevante.
Eu só saberei se a coisa existe quando a coisa acontecer de novo, e eu não vou querer contar a ninguém, porque, à medida que revelo a boa coisa, o bom da coisa se esvai, e eu tenho medo que a coisa se esvaia junto.
A coisa primeiramente foi muito divertida, mas só será a verdadeira boa coisa se você também estiver pensando nela nesta sexta-feira.
Eu estou tentando não pensar na coisa, mas a coisa é mágica; a magia não se desapega da coisa e eu não me desapego da magia.
Não querer pensar na coisa é como não querer dormir afim de não sonhar. Só que não precisamos estar dormindo para sonhar, então a prevenção é inútil.
O tamanho da coisa é relativo à sua importância: para alguns, a coisa pode ser minúscula, mas, para mim, que vi a coisa inteira, é razoavelmente grande.
Você acha a coisa minúscula?
A relatividade da coisa só vai acabar quando eu souber o que você acha da coisa, e então você vai sorrir ou fazer uma careta, e eu vou saber o que você tem a dizer sobre a coisa.
Talvez demore para a coisa reprisar. e, enquanto a coisa não acontece, eu tento não pensar - afinal, já pensei demais na coisa: fiz um texto sobre ela.

"Coisas que a gente nem pensa, que são tão imensas, são a parte de nós dois." - Sal Da Vinci

beijocolates,

#V

quinta-feira, março 13

Praxe

Pensei que pudesse passar o resto de minha vida sem ele. Descobri, angustiada, que não posso esquecê-lo: o amei.

O amor é um tanto desgraçado: me fez feridas, me viu chorar e me chamou à atenção quando quase me distraí. Eu queria estar distraída. Mas o amor retificou sua existência dentro de mim, desmerecendo todas as minhas vontades.

Não se engane, remetendo meu amor à paixão que tem em mente: é amor-amor, o que eu sinto. Se não fosse amor, eu me teria distraído, mas não pude, você sabe, esta parte já lhe contei.

O amor é eterno e incondicional. A ele, não importa se o amante está machucado, seguirá firme, forte e voluptuoso. Também faz-se de cego para as imprudências cometidas pelo amado, perdoando-o a qualquer custo. O amor é, por isso, um tanto estúpido.

O amor é inevitável, incontrolável e irremediável: uma vez feito o amor, está feito. O amor nunca assistiu a "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças", mas teria abominado a hipótese do filme. Ele não nos deixa esquecer de ninguém que nos tenha provocado ternura.

Eu já conversei muitas vezes com o amor, mas ainda não o entendo muito bem. Talvez, para poder entender o amor, eu precise estar pura de toda a minha vida e voltar a ser um bebê. Os bebês não sabem o que Sócrates pensava sobre o amor, e talvez por isso já amem como se deve amar e sejam, por essência, amor. Pena que não saibam falar - embora, se soubessem, talvez, já não fossem puramente amor.

Quis não me importar, mas descobri que me importo, sim, com o amado. O amado, por vezes, se mostrou tão estúpido e desgraçado quanto o amor, mas, assim como amo o amor, percebi que o amo também.

Há amados, como esse meu amado, que assemelham-se bastante àqueles lindos pesos de papel. Não fazem nada, não têm lugar definido, não são muito úteis, mas, ainda que não usemos pilhas de papéis, o mantemos por perto, ainda que perdidos dentro de alguma das caixas que só tornaremos a abrir daqui a alguns anos, e fazemos isso por amor.

Se amar fosse tão bom para quem ama, ser um amante em boca popular não seria motivo de julgamento.

Amar não é fácil: dói, e dói muito. A dor do amor, porém, também faz crescer o amor. A saudade, a nostalgia, a preocupação com o outro: amor. Amor que acresce a si e à alma.

O amor não é mau por inteiro, não me entenda mal. O amor é um sujeito complicado e conviver com ele, às vezes, pode ser bastante cansativo, é verdade. O amor dá mancadas, erra, e deixa tudo por isso mesmo.

O amor parece uma criança - e até porta-se como uma. Toda criança precisa de atenção e cuidado, toma o nosso tempo, nos deixa estressados, rala os joelhos, pede uma sobremesa, chora, fala e faz muito sem pensar em possíveis consequências e toma um grande espaço em nossa vida. Mas basta um único sorriso, e já esquecemos de cada penitência. E esquecemos porque cumprimos a primeira necessidade de uma criança: lhe demos amor.


"A partir desta data,
Aquela mágoa sem remédio
É considerada nula
E sobre ela, silêncio perpétuo."
- Paulo Leminsk


beijocolates,
#V

sexta-feira, março 7

Essa tal da...

Finalmente, depois de muito tempo, consegui recuperar a senha dessa conta pra poder fazer login e postar alguma coisa!

Pulando das justificativas da minha ausência direto pra o assunto do post, aí vai:

 DEFINI(BI)ÇÃO       


Pra que, eu me pergunto, a sociedade insiste tanto que as pessoas ponham o pé no chão e saibam exatamente o que são? Todos precisamos definir, não só os clássicos tabus, a exemplo da sexualidade, mas quem somos, o que queremos, o que gostamos e desgostamos.
Durante o processo de desenvolvimento individual, crescer com essas constantes perguntas em nossas cabeças não só nos confunde e desorienta, como nos inibe a explorar diferentes faces de nós próprios.
Lembro muito bem de uma fase que passei ha alguns anos na qual eu vivia frustrada, porque eu olhava pra todos os meus amigos pensando "é tão simples pra eles. Fulana é patricinha, Fulano é esportista, Cicrano é maconheiro e é isso aí, mas eu sou o que?", achava todos tão bem resolvidos e bem definidos consigo mesmos enquanto eu me via perdida (e ainda me vejo) com relação a isso.
Mais recentemente, porém, uma prima muito minha amiga me disse algo tão simples e óbvio, mas que eu nunca tinha percebido. Parodiando, para não me expor: "mulher, se agora tu acha que ser tenista é o que te define, aproveita essa fase, joga tênis e vai ser feliz, ignora o resto. Se, depois, tu enjoar de tênis e viciar em vôlei, joga vôlei, compra uma bola, mergulha de cabeça no que te fizer feliz no momento. Quando passar o momento do vôlei e do tênis, você não precisa definir se é tenista ou jogadora de voleibol, você só é o que for e pronto". Ok, ela realmente não falou com todas essas palavras nem explicou tanto, mas eu saquei que essa era a ideia.

Basicamente, o que eu quero dizer é que não é fundamental ficar se analisando e corrigindo, você deve viver o que parece certo no momento e só se ligar nas consequências pra avaliar se vale a pena.


"Ninguém merece ser só mais um bonitinho, nem transparecer, consciente, inconsequente, sem se preocupar em ser adulto ou criança. O importante é ser você" - Pitty

Sempre um prazer

xu

quinta-feira, março 6

Utopia

Dias elaborando frases e gestos, olhares e sorrisos.
Horas investidas em suspiros pesados e agitados, pensamentos borbulhentos.
Expectativas dirigindo paquera e conquista, nutrindo incertezas com desejo violento.
E, quando chega, frustra.
Um beijo cadente. Sem graça. Desengonçado.
Estou tão frustrada que poderia chorar.


"There's a feast waiting for you and you've never even gotten a taste, its later than you think and a kiss is a terrible thing to waste." - Meat Loaf

Beijocolates,
#V

quarta-feira, março 5

tantos

com quantos raios se faz um sol?
com quantos sóis se faz um dia?
com quantos dias se faz uma noite?
com quantas noites se faz um sonho?
com quantos sonhos se faz um olhar?
com quantos olhares se faz um sorriso?
com quantos sorrisos se faz um beijo?
com quantos beijos se faz um amor?
com quantos amores se faz uma vida?

a quantas vidas se pode amar?
a quantos amores se pode beijar?

quantos beijos fazem sorrir?
quantos sorrisos fazem olhar?
quantos olhares fazem sonhar?

quantos sonhos cabem em uma noite?
quantas noites cabem em um céu?
quantos céus cabem em uma estrela?

quantas estrelas realizam um sonho?
quantos sonhos realizam você?

#V

quarta-feira, fevereiro 19

Poesia

- Escreveu um poema para ele?
- Não. Só escrevi; o poema fez-se por si mesmo.
- Lhe agradou?
- Sequer imagino, se sim, se não... Não tomou conhecimento dos versos.
- Ora, a troco de quê?
- Ele não será o último a ignorar palavras; nem foi o primeiro, também.
- Então fez outros poemas?
- Não. Só escrevi; a poesia explorou suas próprias formas.
- Poemas têm forma?
- Poesia, você quis dizer?
- Há divergência?
- Alguém certa vez me explicou que poesia é o acelerar do pulso ou do punho, a emoção pura, simples, quase translúcida. Poema é texto. Poesia é vida.
- Vida?
- Que mais poético há, se não a vida?
- Poesia é beleza? Não há beleza no amontoado de parágrafos tecidos que tenho à frente. Veja só esses poemas todos. Seus remetentes não têm ideia de sua existência. Jamais a terão!
- Não se trata de poema, mas de poesia, e a poesia foi verdadeira em cada traço curvo de letra unida a letra.
- Planeja guardar sua poesia em segredo.
- Me insulta! De forma alguma, poesia não deve ser secreta. Deve espalhar-se apressadamente, a fim de tocar cada coração a seu alcance.
- O que fará com todas essas palavras?
- Levarei comigo.
- Em pasta? Nada servirá a tantos papéis!
- Ora, por que pensa em papéis? Pretendo carregar poesia em meus traços, em meus gestos, em meu ser. Quero ser poesia.
- Sendo poesia, entregará aos destinatários estas frases compostas?
- De forma alguma...
- Para eles escreveu, a eles nega a escrita?
- É tolo. Não percebe?
- O quê?
- Escrevi para mim mesma, para mais ninguém. Essa poesia é só minha, e de mais ninguém.
- Pensei que fosse espalhá-la em sorrisos!
- E vou! E todos terão um pedaço de mim dentro de si. Um pedaço só meu, de mais ninguém, confiado aos cuidados do hospedeiro.
- Como cuidar de parte que não dele próprio?!
- Não sabe? Com poesia...

Beijocolates,
#V

terça-feira, fevereiro 4

Três Pontos

Gostosa mergulhou os pés na piscina aquecida e surpreendeu-se com a memória distante que voltou a lhe perturbar: o calor de dois corpos na água gelada, o beijo intercalado pelo bater de dentes. Suspirou, pensativa, e voltou a atenção aos amigos dispostos pelo gramado.
O coração de Desengonçada vagava por uma cena similar, de natureza igualmente sigilosa. Pousou os olhos sobre Babaca e deixou-se abater por arrepios que eriçavam os pelos de sua nuca. Os risos extravagantes chamaram-na para a realidade, por mais que desejasse ainda vagar por seus segredos.
Um sorriso tímido formou-se no rosto de Gostosa, delineando a distração prazerosa que tomava seus devaneios. Encontrou um brilho conhecido nos olhos de Desengonçada, mas evitou encarar o ponto em que eles estavam fixados.
Babaca ergueu-se, sem sequer pedir licença, e afastou-se dramaticamente do pequeno grupo. Desengonçada remexeu-se, incomodada; "Deixe ir." Gostosa engoliu em seco, propositadamente indiferente, sem anular a confusão aparente de Desengonçada. Esperou pouquíssimos minutos antes de declarar procura e lamentou a companhia de Desengonçada.
Babaca era bastante esquisito - sempre foi e, provavelmente, sempre seria. De repente, tinha o saco cheio com toda aquela felicidade que não lhe pertencia. Observava o pouco movimento do breu noturno quando uma voz doce, falha e aguda o interrompeu: "Não seja um esquisitão!"
Não era o timbre correto, pois ele sequer titubeou sobre os pés. Permaneceu imóvel, encarando lamparinas distantes no céu - adorava contemplar estrelas. Só depois de muito esforço em vão, Desengonçada calou-se.
Gostosa aproximou-se vagarosamente, sem jamais balbuciar qualquer coisa. Lembrou-se de um determinado momento que seguiu uma confissão de sonhos comuns, e sentiu as mãos masculinas sobre as suas.
Um mal estar tomou o corpo de Desengonçada enquanto acompanhava a imobilidade dos dois. Por que Babaca não lhe dava uma chance, depois de tudo o que já haviam vivido juntos, depois de tudo aquilo?
"Vamos sair, está frio aqui" - o maxilar de Gostosa estava travado.
"Não quero sair, quero ficar com você."
Os pensamentos de Babaca estavam embaralhados. Ele sentiu Desengonçada ausentar-se sem pronunciar palavra e assim permanecia ainda. Não estava orgulhoso de suas ações passadas. Deixou os braços caírem ao lado do tronco ao fim do enlace de Gostosa, sem se incomodar muito com qualquer coisa. Enamorado dos vestígios de luz morta inertes dispostos ao léu pela infinitude do universo, admirava a pouca relevância de todos os problemas que os cercavam.
As maçãs faciais de Gostosa tornaram-se rubras ao recordar um desastroso beijo final - ah, se soubéssemos quão importantes eram os últimos feitos...
"Tudo bem?" Gostosa enfim rompeu o silêncio.
Desengonçada não entendia o que falavam, mas a abertura que Babaca dava à outra a escandalizava. Era a ela, e não a Gostosa, que ele devia revelar seus pesares. Moveu-se com cautela, temendo que a descobrissem, e esperou testemunhar o que viria.
Veio. Machucou mais do que Desengonçada previra. Recuou, escondendo lágrimas entre arbustos, e preparou-se para retornar ao gramado. "Ela o alcança sem esforço..."
Gostosa retribuiu o toque de lábios. O amara tão desesperadamente... e não mais. As bocas clamavam calmaria em meio à tempestade. "Não mais, não mais." A percepção daquele olhar a assaltava constantemente, a incomodava. Desmanchou o beijo; precisavam voltar.
Gargalhadas atraíram a atenção de Desengonçada ao casal que dirigia-se a ela e não pôde aguentar mais um segundo sequer. Levantou-se de imediato e esperou a umidade surgir em sua face.
O conforto não saudou Gostosa. Sentia o erro gritar dentro de si, mártir. Quão distantes estavam as estrelas de suas mãos? Por que não as podia tocar? Aquele que mais amava saiu de seu campo de visão, seguindo aquela que ele amava. Estavam todos preocupados com Desengonçada, e o bom humor de Babaca esvaíra-se - o que tinha feito, depois de tudo aquilo?
Gostosa mergulhou os pés na piscina aquecida e surpreendeu-se com a epifania sobre ela própria. Dedilhou a água e acarinhou seu ego, desprendendo-se do tempo de então. Viajava por súplicas de amor, traições reveladas e abraços reconfortantes. Imaginou como seria agradável ser abraçada e contentou-se pela inexistência de braços dispostos a tal. Em uma historia em que o amor da desengonçada pelo babaca não é correspondido, a culpa não é dele ou dos hábitos pouco atraentes dela, mas da gostosa que não deixa de mais facilmente conquistar o babaca.
Os soluços de lástima ecoavam em algum lugar. Gostosa só podia ouvir a própria respiração e sentir o afago de seus sonhos.

"Claro, ela tem tudo aquilo, mas é isso mesmo que você quer?" - Adele

Beijocolates,
#V

quinta-feira, janeiro 16

Teste 100

Eu jamais poderia ter imaginado que, no teste final, escreveria o que estou prestes a escrever. Apesar disso, não me surpreendo o suficiente - se estamos em constante mudança, a Victoria de hoje não deveria chocar tanto a Victoria de dois anos atrás. Então, dois anos depois de anunciar a abertura de cem testes inconsequentes, repito o tópico de forma diferente...
A CULPA DE NOZ
Um peso parece latejar em todo o nosso ser. Pesa, pesa, pesa. A visão é comprometida, torna-se turva - e surgem vozes secas a consolar lágrimas reais ou ilusórias. "A culpa não é sua." Acreditamos, projetando mágoa a outro autor do fracasso. A culpa, afinal, nem sempre é minha. Nessas palavras que viraram provérbios e ditados populares, encontramos o conforto de uma mentira. Negligenciamos a responsabilidade e esquecemos que, em vezes alternadas ou quase sempre, a culpa é, realmente, nossa.
Fracasso não se trata de errar. Trata-se, simplesmente, de não acertar.
O que é certo só é encontrado após quantidade significativa de tentativas. Experiências, testes, riscos a serem tomados. Quando não conseguimos enfrentar nossos desejos, surge uma frustração estranha por nossa própria existência. Culpa e arrependimento se confundem com frequência - porque fizemos o que não queríamos ter feito e deixamos de fazer o que queríamos.
Não basta ser cabeça aberta e ficar a mercê do outro - é preciso mostrar nossa essência àqueles que estão conosco. Aqui falha a teoria que separa razão e emoção. Como pensar rápido e encontrar uma solução a um problema completamente passional, sem deixar que a sensibilidade nos afete de qualquer maneira? Como tomar uma decisão imprudente, sem avaliar minimamente a situação que se desdobra perante nós?
Talvez a Psicologia já tenha estudado grande parte da culpa do ser humano - fatores de maioridade mental, lucidez, ou sei lá mais o quê. Lamento desapontá-lo - lamento, sinceramente, pois fiquei deslumbrada com seus hábitos -, mas não estou familiarizada com qualquer teoria proposta por Freud, Nietzsche ou um outro que fuja ao clichê. Estou, porém, bastante familiarizada com minhas próprias oscilações de humor, com meus próprios sonhos, com meu próprio labirinto emocional.
Penso que todos somos iguais (em potencial). Qualquer um de nós pode acordar mal humorado ou duvidar da existência de Deus. Qualquer um de nós pode se sentir inseguro ou rejeitado, e igualmente sentir-se bem consigo mesmo. Qualquer um de nós pode esconder lágrimas ou autoria de lindos sorrisos. Qualquer um de nós pode se sentir esquecido, traído, deslocado.
E qualquer um de nós pode ser o herói de qualquer outro de nós.
Eu descobri algo fantástico ao longo dos noventa e nove testes que me trouxeram até aqui: descobri que, como Me. Agathe anunciou certa vez, "nós sempre podemos mais do que imaginamos." Aprendi que nós mesmos impomos obstáculos a nossas trilhas e que, bem como os instalamos, podemos retirá-los. Quando deixamos cones laranja obstruírem a entrada de pessoas em nossas vidas, terminamos voltando à tristeza e à solidão sem ciência de um porquê.
É difícil falar - mas é preciso falar.
O falso sufocamento que impede concentração e coragem de nossa parte é, além de medo, orgulho. Um medo de ferir o nosso orgulho. Se pudéssemos ignorar o engasgo em nossa garganta e ritmar respirações longas e pausadas, conseguiríamos, no mínimo, uma chance de escutar. É importante afastarmo-nos brevemente, analisar o quadro no qual nos encontramos e buscar uma real solução ao embaraço que temos à frente.
Escutar o quê? Há vezes em que se trata de uma música. Há outras em que se trata de um longo casamento marcado por desconfiança, mais em que se trata de um abraço, mais em que se trata de um mal entendido, mais em que se trata de medo. Às vezes, um sorriso já basta. Às vezes, um sorriso transborda - extrapola, inunda, expõe.
Não há certezas nos riscos conjuntos. Vivemos em diálogo, sensíveis a respostas improvisadas. Como vivos estão sujeitos à morte, os sucedidos estão sensíveis a fracassos - é natural. O conhecimento popular e o senso comum que passam como herança familiar só é apreendido quando posto em prática. Precisamos sangrar, sentir a dor, entender o que machuca - e então fazer sarar.
Melodramas circenses improvisados à beira da piscina ocultam o drama real como palavrões escondem o sofrimento de quem os pronuncia em oportunidades críticas. Mas por que remoer o que já foi moído?

No dia 16 de janeiro de 2014, às 22:22,  estava me sentindo culpada e arrependida.
No dia 16 de janeiro de 2014, às 23:37, estou determinada a lutar por minha própria causa.

"Someone finds salvation in everyone and another, only pain... to be yourself is all that you can do" - Audioslave

Beijocolates,
#V

terça-feira, janeiro 14

Teste 099

Há mais nesta paisagem do que seus olhos podem ver - posso enxergar isso neles próprios, nos seus olhos. O brilho que exibem, sorrindo, para as ondas de mar que quebram à frente ilumina-me, também. A hora é chegada e você aparenta a tranquilidade em si.
Os cabelos desgrenhados pela maresia não lhe causam grande alerta - o que causaria? Seus lábios esticam-se, curvos, como uma parábola de vértice negativo.
"Já pensou em amar alguém assim?"
O silêncio perturbado faz meus ouvidos ecoarem. Me distraio com a areia molhada que envolve meus pés, porque me surpreendeu lhe admirando.
"Como assim?"
Os dentes levemente espaçados surgiram em tom de riso, esboçando as covinhas que lhe causavam mais incômodo do que deveriam. Mas você pareceu não se importar.
Deve ter encontrado confusão em minha face e, em simetria, enrugou a testa: "Não se preocupe."
Não soube distinguir a voz; vinha de todos os lugares. O sol que emanava de nossa pele me fez perceber o que você queria dizer.
O calor nos fazia evaporar, mas era bom. Sentia que sumia dentro de você, e me sentia bem, por inteiro. Você se sentia assim também.
Percebi quando gargalhamos e não nos importamos com as marquinhas em nossas bochechas - ficamos ainda mais feliz(es) por isso.
Os passos que marcavam a orla eram de nossos pés descalços, caminhávamos em perfeita harmonia. Erguemos nossos braços às nuvens que escondiam-se pela noite que devorava o crepúsculo, respirando o mesmo ar.
"Já pensou em amar alguém assim?"
Pensamos, dissemos e repetimos. Rimos de nós mesmos.
Meus braços envolveram o seu corpo bem como o meu corpo envolveu seus braços.
A água salgada nos alcançou, gelada. Sentimos, em unidade, os pelos eriçarem-se por todo o comprimento do corpo.
Eu queria poder nos admirar naquele instante, mas você sabia que estava radiante - e eu sabia, também.
Porque éramos um só.
Já pensou em amar alguém assim? E assim amar a si mesmo?

"Amar a si mesmo é o início de um amor para toda a vida." - Oscar Wilde

Beijocolates,
#V