segunda-feira, julho 16

Teste 058

Dançar é contagiante.
Fui a uma apresentação de tango na Argentina, uma vez, e fiquei tão encantada com o contato, a química e a sincronia que agitava os dois corpos como complemento de um só que mal pude imaginar como os parceiros não se apaixonavam um pelo outro. Nos filmes e nos livros, é sempre assim que acontece, em um baile de máscaras ou à fantasia, o que me irrita bastante. Como em todos os filmes da Cinderela e suas mil e uma releituras, uma máscara parece o suficiente para que aquela garota, que o "príncipe", muitas vezes, já conhecia, torne-se absolutamente irreconhecível. É incrível - incrível, inacreditável, ininteligível - como a voz, os olhos, o cheiro, o cabelo, as feições, TUDO é anulado por uma simples máscara - pior ainda é aquele filme da Lucy Hale, em que ela cobre a boca com um lencinho de odalisca e o cara fica louco (LOUCO!) sem saber quem é aquela nobre dama misteriosa - fala sério! Apesar da irrealidade dos contos de fadas ainda estar presente em todas as novas historias, o fado de o "príncipe encantado" não ser mais um príncipe já é um grande começo. De qualquer modo, sabemos todos que nada desses contos veio a nós sem os dez mil filtros que a Disney impôs no meio do caminho. Uma vez alguém me disse que, se a Branca de Neve vivia com 7 homens, independente se são anões ou não, é quase óbvio que ela não pagava a estadia apenas com torradas e geléia - o que me chocou bastante, mas, se a Chapeuzinho era uma história de estupro e canibalismo e a Alice só viajava até o País das Maravilhas depois de muitos alucinógenos, não tenho por que discordar da prostituição da Branca de Neve. Algo que sempre me incomodou, na verdade, foi o fato de a Cinderela (ela mais uma vez) nunca ter procurado a justiça, alegando os maus-tratos e todo o abuso que sofria da madrasta - sem falar que, naquela época, uma mulher divorciada ou solteira com filhas já crescidas jamais tornaria a casar-se com um homem como o pai da Cinderela - porque ela teria toda a herança e um bom lar adotivo, além de colocar a vaca na cadeia.
Estou escrevendo sobre isso porque vivo ouvindo essas coisas do tipo "as princesas decepcionam as crianças" - o sonho da alma gêmea não parte apenas das meninas -, mas não vejo muito como. O lance do príncipe encantado é bem fácil de resolver, na verdade, o de ser príncipe vem da realeza, dos bons costumes, da boa educação, da nobreza da alma, digamos assim, e a historia de ser encantado não podia ser mais óbvia: quando nos apaixonamos, não nos encantamos? Esse encanto amoroso e romântico que nos acomete e nos deixa loucos, na verdade, é isso. Pois bem, então o protagonista da sua história de amor é um galanteador apaixonado; certo! Agora, a protagonista: nem sempre uma princesa, mas sempre com os traços delicados e graciosos de uma dama, isso que todos os pais e todas as mães lutam para que suas filhas sejam: BEM EDUCADAS. Claro que você tinha que ter dotes, como costurar, fazer torradas, ser aventureira ou o que quer que seja, mas isso nos dias atuais acontece se você quiser e for a fim. Então a heroína é uma menina carinhosa. A pala da bruxa, madrasta e todo o drama das irmãs do mal acabou atribuindo às nossas coitadas madrastas e adjacentes, mas está ligada, na verdade, ao que nos rodeia: às fofocas, aos julgamentos, às pessoas que não poem força no relacionamento e mesmo em nós, por assim dizer; o vilão é composto de todo um grupo de pessoas que lhe faz de bode expiatório. Maaas, como a vida é boa e valhe a pena, haverá sempre uma varinha de condão para nos resgatar das garras do mal: são aqueles que nos dão força e nos estimulam a ir à luta, embora, na maioria das vezes, digamos "que nada" e choremos convulsivamente, esperando alguma magia acontecer - e não irá, porque nós não acreditamos nela.
Portanto, temos os igredientes para montar um lindo romance: um galanteador apaixonado, uma menina carinhosa, algumas pessoas falsas e amigos e familiares cheios de sorriso e esperança. O problema é que, depois de sabermos ou não disso tudo, sentamos e esperamos algo fenomenal acontecer. Pois acredite quando disserem que o amor pode estar do seu lado, na fila do banco ou do supermercado, mas não ande como um esquizofrênico procurando o que devia vir com naturalidade. A paixão razoável que você sente podia ser um grande começo; escreva sua historia! De repente quem te chamou pra dançar ou te ajudou a se levantar quando você passou mal e desmaiou na fila do aulão do cursinho é o protagonista ou a protagonista desse lindo conto de fadas, e sabe o que mais? Essa coisa de carpe diem é séria, mesmo. Dê o seu melhor a cada segundo e se arrisque o máximo que puder porque - e eu garanto, porque já provei - os petiscos são deliciosos!

"Coisas boas vêm com o tempo. As melhores vêm de repente." - Gabriel Feijó, meu primo.

Beijocolates,
#V

quarta-feira, julho 4

Teste 056

É verdade que eu acabo de voltar da Chapada Diamantina e, ao invés de tentar escrever sobre emoções, descobertas, Deus e paisagens, venho a vós preparar um milkshake de chocolate sobre o que mais agrada sua língua: a fala.

Você fala sem pensar, sem saber, sem gostar, você simplesmente fala, independente se pré-meditou aquilo ou não. No fim das contas, as palavras que jorraram por sua boca foram exatas, diretas e corretas, e não as trocaríamos por nada nesse mundo - ou talvez trocássemos.
As frases que brotam sem sutileza alguma ou ricas em suavidade desaguam em um mar de complexidades que nenhum acadêmico poderia integrar em um currículo: gestos, tons de voz, caras e bocas... É engraçado como lemos e computamos cada sorriso - e como podemos discerní-lo de todos os outros - sem sequer sabermos que estamos fazendo isso.
O interesse e a simpatia entre duas pessoas se dá, como já foi dito pelo meu professor de Física (e eu nem queria lembrar do colégio agora), por gestos espelhados - veja só eu e minha mãe: eu começo a contar uma história de quase morte e ela já está com o rosto agoniado e semelhante ao meu.
Quando você e alguém de quem você gosta muito - hmmm... - estão conversando, é normal que gesticulem de modo a aproximar-se ou que o contato visual seja duradouro, além dos movimentos serem dados como em uma sincronia que, se fosse ensaiada, não seria tão perfeita.
É engraçado pensar que mesmo o toque e a intensidade dele diferem cada contato - há mil modos de abraçar alguém, e podemos, com um pouco de esforço, entendê-los. É como sorrir! Um sorriso apaixonado e cauteloso não é diferente de um sorriso intencional e objetivo? Bem, eu acho. Quando sorriem falsa e forçosamente, não machuca? Mas quando sorriem verdadeiramente, o coração da gente até esquenta um tantinho...
Sem contentar-se, o ser humano inventa códigos, teatros, linguagens, poesia, música, Literatura; e expressa-se como uma dança ou um jogo, ambos os corpos conectados e completos, movendo-se e comunicando-se de um jeito próprio e belo.
Racionalizar a comunicação só faz utilizá-la mais e mais: telefonemas, sonhos, mensagens, olhares - ah, os olhares... -, mas o que quero dizer é que... não quero dizer. Apenas olhe para mim e sinta tudo o que está no estreito espaço entre nós.

"Hoje eu preciso ouvir qualquer palavra tua, qualquer frase exagerada que me faça sentir alegria em estar vivo" - Jota Quest

Beijocolates,
#V

Teste 057

"Carpe diem" aconselhou-me meu irmão mais velho, quando eu sequer me preocupava com qualquer coisa. Pesquisando um pouco, o termo praxe que já teve maior ibope surgiu do epicurismo, corrente filosófica que empenhava-se em validar e valorizar cada momento singular da vida, por mais rotineiro que seja.
A busca pelo prazer cotidiano é bem aceita e tida como "interessante" por grande parte desta população mundial, apesar de serem poucos os que, de fato, procuram viver intensamente, dispostos a deixar-se à deriva, percorrendo os sinuosos caminhos que a vida lhes apresenta.
Há dezenas de livros, listas, filmes e frases sugerindo o que se deve fazer antes de morrer - o que você faria se hoje fosse o seu último dia em terra? Em geral se pensa que encarar uma morte tão próxima nos deve levar a ações extremas e radicais, como pular de para-quedas, transar com um desconhecido, gritar pela rua, declarar um amor antigo, entre outras coisas que, em sã consciência, jamais faríamos - "em sã", eu disse.
A ideia do "carpe diem" vem conjunta à de jamais confiar no amanhã, mas lhe estimula, apenas, a ser feliz nas mínimas coisas, como rir alto de uma piada sem graça ou mesmo comer sua sobremesa favorita.
Extrair o melhor de tudo sem receio por futuros arrependimentos é sorrir verdadeiramente a quem se ama; entregar-se a uma paixão improvável e por-se sob todos os riscos, sem se preocupar com nem um deles; deixar-se ser embalado pelo ritmo de cada dia e gargalhar com vontade ao flagrar-se dançando.
É fácil ser feliz, no fim das contas. Temos apenas que seguir, inadvertidamente, aquilo que nos arranca sorrisos, e sermos firmes perante os julgamentos dos desentendidos. Não há muito tempo, de fato, a ser gasto, apenas...

"Carpe diem, quam minimum credula postero" - Horácio

Beijocolates,
#V