segunda-feira, novembro 24

(Seus) Olhos

Os olhos me dizem mais, bem mais que qualquer boca poderia me dizer.
Os olhos me olham, envolvidos, embriagados, e a embriaguez é boa, porque me embriaga, também.
Estes olhos que amo fazem do olhar algo demasiadamente verdadeiro.
Os olhos são compenetrados, carinhosos e transbordantes.
Admiro muito esses olhos, até por me admirarem tanto.
Sinto, por esses olhos, mais do que pode ser expresso por palavras, então converto as funções de minha boca, e ela já não fala, mas beija.
O beijo é sincero, porque a boca é sincera e os olhos são sinceros.
Nunca antes fui capaz de ver tanta sinceridade em um par de olhos.
Nesses olhos, vejo meus próprios olhos, mas da forma que os olhos os veem.
E sorrio com os olhos.
Com os seus olhos.
É engraçado como podemos morrer com um olhar.
Me sinto morrendo aos poucos, mas morrendo de felicidade.
É algo curioso: sinto-me prestes a explodir.
Explodir em gioia.
Sinto explodir em um sorriso, mas não me contento com tão pouco.
Deixo vazar dos meus olhos sobre seus olhos, e me preencho com tudo.
Tudo o que posso sentir em seu olhar.

"Meu amor, juro por Deus que a luz dos olhos meus já não pode esperar; quero a luz dos olhos meus na luz dos olhos teus, sem mais la-ra-ra-ra..." - Vinícius de Moraes

Beijocolates,
#V

sábado, novembro 1

Madrugada

E, na madrugada, acontece.


A cidade dorme, não se ouve nada. Todos fazem silêncio em seu sono profundo, tudo o que se ouve é o quase sempre abafado som do vento fazendo caminho entre árvores e janelas.
O barulho se restringe à minha cabeça. Dentro dela, tudo são gritos. É ensurdecedor, mas só eu posso ficar surda com a gritaria. É a minha poluição sonora particular.
Me deixa inquieta.
Não consigo dormir.
Nem calar meus pensamentos.
Estou ansiosa pela fervorosidade dos murmúrios que tomam o meu corpo inteiro. Algo deve ser feito a respeito disso, ninguém pode ficar nervoso assim, consigo mesmo.
O imediatismo também me mantém acordada. Eu queria me levantar da cama, apanhar as chaves do carro e só parar de dirigir quando estivesse em frente à sua casa. Então, sentiria minha alma abandonar meu corpo, amedrontada por incertezas, e tocaria a campainha.
Eu adoraria pôr um fim nesse barulho. O mais rápido que pudesse. Quero que a gritaria cesse, porque me impede de falar. Me faz ficar ausente de mim mesma, e ninguém gosta de conversar com alguém ausente de si mesmo.
Eu preciso conversar com ele. Ouvir sua voz.
Sua voz fará parar todo esse tormento dentro de mim. E, se não for suficiente, quem sabe a aurora me traga um pouco de paz...


"A noite é muito longa e eu dou plantão dos meus problemas que eu quero esquecer" - Kid Abelha


beijocolates,
#V