domingo, outubro 14

Teste 067

Essa historia é de longa data, antiga, de uma época na qual confiávamos em estranhos bem intencionados e as críticas machistas à moral feminina se dissipava, mas ainda era sensível.

QUEBRE A EXCEÇÃO
(Pedro e Alice - nomes meramente ilustrativos)

O dia estava morno e agradável; a brisa, suave, arrastava consigo o queimor dos raios solares, brilhantes e cegos. Tudo exalava um aroma adocicado, como quando se retiram biscoitos do forno. Cães passeavam, junto a seus donos, satisfeitos com a caminhada, enquanto atletas praticavam cooper na pista paralela. O parque estava repleto de famílias sorridentes, estendendo toalhas sobre a grama verde, bem cuidada, para um bom piquinique.
"Vamos, Clara, você consegue!" Estimulou Alice, rindo da adolescente que se desdobrava para rebater a bola. Estavam jogando frescobol, gargalhando das habilidades precárias e comuns às duas, quando um homem aproximou-se, em uma moto, tímido.
"Com licença, você gostaria de dar uma volta comigo?" Perguntou, inocente, esperando por uma resposta - e que fosse de seu agrado. Alice virou-se para a outra, duvidosa, e voltou o olhar para o desconhecido à frente.
"Qual seu nome?" Indagou, curiosa, ao homem de vestes quadriculadas e óculos de armação grossa. Teria, no máximo, 36 anos, não muito mais que ela, e portava um sorriso encantador.
Ele estendeu a mão direita, a fim de cumprimentá-la, e fez uma reverência atípica, engraçada, ao responder: "Pedro é o nome pelo qual atendo." O ar irônico não lhe abandonava os olhos negros, nem um instante sequer.
"Alice é o nome dela" clamou Clara, fazendo a companheira corar pelo objetivismo, e encolheu os ombros quando percebeu a repreensão muda da morena alta, embora de menor estatura que a primeira. Pedro fitava-a, empertigado com o mistério que aparentemente cercava o rosto juvenil dela.
Alice, enfim, sentou no assento da motocicleta e agasalhou as mãos frágeis, macias, nos bolsos da jaqueta de seu recém-apresentado, que, por uma fração de segundo, esqueceu-se de como girar a chave na ignição.
O motor rugiu e o vento começou a bagunçar os cabelos caramelo de Alice, graciosos, como a tal. Rodaram pela grande cidade, sem trocar palavras em meio ao som dos carros passando ao lado, zunindo à resistência física do ar. Quando voltaram ao parque, Clara lia, sossegada, com as costas apoiada em um tronco de árvore. Ela ergueu os olhos na direção dos dois e sorriu, feliz, as madeixas escuras e encaracoladas derramando-se por suas costas.
"Nós podíamos tomar um café" ele sugeriu à mais velha. Alice analisou-o com o sorriso costumeiro e assentiu, ditando-lhe onde poderiam encontrar-se às cinco da tarde. Despediram-se e ela abraçou Clara, satisfeita.
Encontraram-se seis horas mais tarde, em uma cafeteria próxima à casa onde vivia Alice.
"Sua irmã me pareceu bastante simpática" comentava Pedro, bebericando a xícara fumegante de café torrado. Notando a inquietação de sua acompanhante, tomou uma expressão preocupada para si. "O que há, Alice?" Ela soltou o ar de forma pesada e inclinou-se um pouco mais à mesa, hesitante.
"Ouça, Pedro, não sei por que lhe contarei isso, mas peço que não me julgue, está bem?" Ele consentiu, esperando que continuasse. "Clara é minha filha, não minha irmã mais nova. Fui mãe antes da hora e me divorciei, mas..." O homem parecia abatido com a notícia, quase chocado. Endireitou-se na cadeira e remodelou o rosto, com ânimo.
"É uma ótima filha" ele corrigiu, e o sorriso em seus lábios fez sorrir também Alice, em paz memorável.

***

Se foi fácil? Não foi nada fácil. Naquela época, era impura a mulher divorciada, e as críticas da família de Pedro, além da pressão de todos mais, quase os fez desistir - quase. Lutaram como lutam idealistas: contra o mundo, mas conseguiram. Por carinho indubtável, Clara chama de pai o pai de seu irmão mais novo, Lucas, e de tal forma Pedro adentrou a família que não mais se imagina como seria sem ele. O casamento de Alice e Pedro dura até hoje, estão nas bodas de pérola e seguirão às de vinho, se a vida os deixar. O amor brota em novidade a cada dia, e a paixão que parecia frágil e condicional, hoje, a mim, é referencial de persistência.
Não desista nos primeiros obstáculos, vale a pena.

Beijocolates,
#V

terça-feira, outubro 9

Teste 066

OU CONSEQUÊNCIA
(Giovanna e Felipe - nomes meramente ilustrativos)

Ela consultou o relógio mais uma vez, impaciente.
Os risos, altos e escandalosos, faziam ser ouvidos por toda a sala aberta, imensa, mas ele parecia não notar a garota acanhada ao canto, muda.
Levantou-se, vagarosamente, de onde estava sentada, apanhou os cadernos e se pôs a caminhar, frustrada, pelos corredores ensolarados do colégio.
"Gio!" Ouviu chamar, depois de muito tempo passado, e tentou não sorrir ao ver Felipe então correndo em sua direção.
As primeiras gotas de chuva espalharam por suas camisetas, manchando o tecido.
Os corações desritmados, desesperados, mergulhavam no beijo que seguiria, devoto, apaixonado.
Giovanna o olhou com atenção, sentindo a água cair sobre os cabelos com mais intensidade.
"Me namora." Felipe professou, sem ar interrogativo ou qualquer ar que fosse.
Ela sorriu, apenas, puxando-o para mais perto, e um arco-íris formou-se, tímido, com o sol exibindo-se por entre as nuvens pesadas.
O mundo parecia girar ao ritmo de uma música em particular.

Beijocolates
#V