segunda-feira, julho 15

Teste 089

A pele arrepiou-se por completo ao dedilhar suave em sua nuca. Pareciam estar envoltos por uma grande bolha, distraídos do mundo exterior - ali, na troca de olhares fumegantes, residia o puro amor, em um universo à parte. Suas unhas percorreram o comprimento de se braço, e os olhos adormecidos abriram em um sorriso terno - ela deixou-se deliciar com a curva dos lábios dele. Em silêncio, pensava se ele saberia quão bem lhe faz, mas jamais poderia afirma-lo em momento tão preciso. As mãos tocavam-se em lentidão e firmeza, dispersas, mas congruentes às palavras não ditas. Conversavam - ou não? As dissertações fluíam de boca a boca, ambas cerradas, caladas e secas. Imagina se ele se importaria em passar tanto tempo a seu lado e experimenta deleite inegável. Mas quão firmes estamos sobre sentimentos alheios?
O pulso é sensível aos tímpanos, a felicidade irredutível pregando-lhe um riso à garganta. Fita-o, mais uma vez, e ergue as sobrancelhas ponderando sua insegurança. Abraça-lhe o corpo, pedindo, secreta e silenciosamente, que fique um pouco mais. Em gesto desagradável de pressa, ele esquiva-se, sem demonstrar qualquer lamento profundo. Não querendo ser abusiva, engole em seco, volta-se a outros e inicia uma nova conversa, negando ressentimentos. Guardam novamente seus romances incertos e procuram aparentar, em intuito de proteção ao outro, indiferença.
Mais tarde, ao reencontrarem-se, mostrarão dentes em gesto exultante, ansiosos por códigos próprios cujas traduções não cabem à língua em pronúncia, mas em dança e calmaria desesperadas.
Ainda não serão capazes de admitir quão necessários são um ao outro.

Beijocolates,

#V


Devemos confessar que nada nos faz mais ansiosos por algo que o contexto misterioso no qual está inserido, não é mesmo?

quarta-feira, julho 10

Teste 088

O sol não deixa de radiar. Invariavelmente, está nos revelando mais um dia a cada manhã, ainda que não percebamos. Chove, mas ele está lá. Anoitece, mas ele está lá. Talvez seja plausível que Rá fosse o deus mais importante da mitologia egípcia. Em nós, a constante radiação, direta ou indireta, nos consome e nos repõe energia. Nos faz viver, mesmo em dias tristes. Mesmo em dias incertos ou dias arrasadores. O sol nos consola com a promessa de mais um dia e a calmaria do luar; nos dá tempo para pensar e ordena, pacientemente, que tomemos qualquer atitude. A cada dia que passa, fazemos o que bem entendemos com as vinte e quatro horas que nos foram concedidas. Às vezes, sequer levantamos do conforto de nossa cama, enrolados em preguiça e cobertores enquanto alguém nos espera ansiosamente. Não importa quão desagradável o amanhã pareça, o amanhã surgirá repleto de possibilidades.
Sorria.
O sol acolhe um sorriso com certa satisfação - nos aquece internamente. E lá está ele, brilhando a seu favor e em favor de todos os outros. É um novo dia. Um dia para reconstruir velhos sonhos, alimentar novos e realizar alguns outros. É tempo de ser feliz, simplesmente, e permitir que a felicidade invada-nos a alma bem como parecem os raios de sol fazer.

"Não importa quão longa e escura lhe pareça a noite: o amanhecer é inevitável" - mamãe

Beijocolates,

#V

domingo, julho 7

Teste 087

Acordar em meio à madrugada e ficar pensando, pensando...
Memorando bons momentos e formulando alguns outros que te façam sorrir.

Beijocolates,
#V

terça-feira, julho 2

Teste 082

É uma sociedade que teme a dor mais que tudo.
O consolo de um ombro amigo destaca-se como "Não fica assim", impedindo lágrimas ou qualquer sentimento ruim. Não há um desejo verdadeiro em descobrir a causa da agonia e tentar solucionar o problema; há, entretanto, uma energia gritante quando se trata de "deixar para lá".
Estamos sempre fugindo, fugindo... Sentimos um latejo nas têmporas e tratamos de nos medicar com dipirona: temos remédios para todo tipo de sofrimento. Depressão, gripe, indigestão, ansiedade, tudo. Mas será mesmo que não podemos aturar a agonia por alguns instantes?
Se só o veneno de cobra nos torna capaz de vencê-lo, me parece que encarar as angústias é o único antídoto provável para elas.
Temos que nos expor mais, chorar mais, indagar mais - ter medo, sim, e nos machucar quando já sabíamos que íamos cair. E só então poderemos nos reerguer, enxugar o rosto e seguir um rumo com conhecimentos aprimorados acerca dos desvios em nosso caminho.
Queremos uma vida indolor, mas já nascemos gritando, sufocados, desesperados: lutando para viver.
Ser forte não é contornar insatisfações, e sim enfrentá-las. Gritar em frente ao espelho, abraçar as pernas e então dançar... O sofrimento é humano e não acomete minoria - todos sofremos. Mas por que sorrir, sentindo o coração contrair-se, se podemos chorar um pouco e sorrirmos verdadeiramente?
Devemos aproveitar essa vida ao máximo: toda a dor e todo o prazer, conjugados. Se não há luz sem sombras e a recíproca é verdadeira... devemos afundar um pouco na água antes de aprender a nadar.

"In the daylight, we'll be on our own, but tonight I need to hold you so close..." - Maroon 5

Beijocolates,
#V

Teste 086

Querer tratar e não saber com quem.
É um assunto restrito a pessoas que não podem opinar a seu favor.
Cegos. Cegos por amizade ou impulso.
O choro é reprimido e dispõe-se a ouvir, ouvir... As palavras parecem machucar mais que os tímpanos: a própria ilusão.
A falsa realidade que criou ao conforto é, aos poucos, ameaçada, e a verdadeira indispõe-se.
O que dizer? Como falar?
As más situações cercam, sufocam. Não se sabe como agir e não há destino certo para a fuga.
A ajuda é negligenciada, inútil - ninguém quer realmente ajudar. Querem o caminho mais rápido, o êxtase de mais fácil acesso.
Sofre, sofre... Não por si, pelo outro.
Pelo outro que não se importa consigo mesmo, cujo sonho imprudente mal desgasta-se às mágoas incongruentes.

Beijocolates,
#V