quarta-feira, abril 20

voar, voar


Foi difícil, muito difícil, mas eu aprendi, enfim, a voar.
O processo todo foi incômodo, mas fascinante. Abri as asas vagarosamente, por timidez, e acabei gostando. Desenhei-as largas, inspirei fundo e inflei o peito - eu estava linda.
Após contemplar a beleza de meu corpo alado, arrisquei bater as asas, só um pouquinho. Me assustei, logo no início, com o ar que o movimento transformo em vento, mas a sensação até que não era tão mal... me fazia cócegas... Ergui a cabeça, aprumei o corpo e decidi que estava na hora. Experimentei acelerar os batimentos e, quando me dei conta do que estava acontecendo, meus pés já não encostavam o chão. Corria, por mim, uma coisa gostosa à qual não pude atribuir nome.
Vislumbrei, por cima das penas, a prisão que tinha chamado de lar por tanto tempo, a velha gaiola em que me haviam posto. Me amaram, sei que amaram, mas erraram pensando ser donos das lindas asas que jamais seriam deles. São minhas, e minhas apenas. As movo a meu gosto, e elas me levam não aonde preciso estar, mas aonde quero e aonde mereço.
Agradeço o carinho, a água e os cereais. Sei que, sem vocês, sequer teria força para expandir-me pelo céu. Mas eu preciso de mais, bem mais que isso. Preciso sentir-me inteira, na completude que se forma de vento, de mim e de minhas belas asas.
É um voo espetacular... vem também voar...
#V