quarta-feira, junho 2

temas juninos: orgulho mogai

junho chegou! e cada vez que chega, começa toda uma movimentação sobre o orgulho LGBTQIAP+ em debates mais rasos ou mais profundos, com filtros temáticos para o instagram e fervorosas campanhas de marcas sedentas por pink money (dinheiro extorquido da comunidade LGBTQIAP+ na compra de coisinhas coloridas sem qualquer compromisso com a causa).

(ícone do deboche, pabllo vittar em clipe de "seu crime")

esse é sempre tempo para estudar um pouco mais sobre dissidência de gênero e sexualidade. pensei se não deveria compartilhar um pouco dessas descobertas com alguém - qualquer pessoa que fosse, que estivesse interessada em saber sobre os castelos que tenho construído dentro de minha própria cabeça.

o meu processo de reconhecimento enquanto pessoa que sou começa no confronto com a heteronormatividade que até aquele momento eu não sabia que precisava seguir. códigos de vestimenta, etiqueta, performance de gênero e sexualidade, tudo bem escrito em letras garrafais, invisíveis, mas dolorosamente esculpidas na sentença do primeiro nascimento. somos entregues à luz, as partes iluminadas são avaliadas e é dado o veredicto: menina ou menino, parabéns!

sou uma pessoa que acreditou no termo "opção" para identidades de gênero e sexualidade porque sentia intimamente que qualquer pessoa poderia manifestar-se como bem quisesse, se relacionando com quem bem entendesse, e desfrutaria com prazer em tudo isso. boca é boca, beijo é beijo, e a delícia de se derramar assim devagarinho num chamego gostoso, poxa! que importa gênero ou sexualidade nisso tudo? 

ora! não é bem assim que acontece. no fim das contas eu era mais uma pessoa "diferente", desinformada e despolitizada.

foi longo o processo de descoberta e compreensão de mim mesma enquanto pansexual, uma pessoa que sente atração por pessoas de uma forma geral, não importando gênero e/ou sexualidade com que se identifiquem. a monodissidência (um desvio da monossexualidade - atração por um único gênero, como homossexualidade ou heterossexualidade) se anuncia ainda mais forte que propriamente a ideia de uma bandeira específica nela compreendida, e acabo numa gastação sem fim sobre pansexualidade, bissexualidade, polissexualidade e omnissexualidade/onissexualidade. 

é sobre tudo isso que gostaria de escrever e (quem sabe) compartilhar com vocês, numa pesquisa de mim mesma que invariavelmente aponta para uma pesquisa da comunidade!

chego cá inspirada pela nova juventude dissidente que promove debates sobre gênero e sexualidade botando o próprio corpo pra jogo nas redes sociais. acompanhar essas discussões me colocou em contato com alguns termos até então desconhecidos, como...
* MOGAI *
(ícone assexual bob esponja)

esse termo que me pareceu tão estranho a princípio é sigla alternativa para as letras que não conseguimos ler como palavra, e significa "orientações e alinhamentos de gênero marginalizades e intersex" (Marginalized Orientations Gender Alignments and Intersex). uma derivação possível é IMOGA, que coloca intersex logo à frente.

desde aí, já começa o meu encantamento. tomar posse de um termo assim é afirmar a posição política de uma identidade marginalizada e falar a partir dela, pensando a partir dela. e vai além disso: permite levantar bandeiras outras para além das já conhecidas (embora nem sempre reconhecidas) LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e trans).

essa é a possibilidade de levantar bandeiras em toda a sua pluralidade, indo fundo na especificidade de cada uma delas, que consideram identidade, alinhamento, orientação e a forma como tudo isso se articula com gênero, sexualidade e romance. há um empenho em encontrar representatividade para si em cores e reflexões, fazendo pesquisas profundas sobre os próprios sentimentos, a forma de se relacionar consigo e com o mundo!

os rótulos e os micro-rótulos dentro da comunidade MOGAI são ainda motivo de muito bate-boca. algumas pessoas acham que especificidades podem comprometer a visibilidade e o entendimento da causa para quem vê de fora (ou mesmo quem vê de dentro). mas uma parcela importante de pessoas está lutando para dar visibilidade e promover o entendimento dessas bandeiras para quem possa se identificar com elas, o que é um trabalho principalmente voltado para a própria comunidade ou mais ainda para si. questionamentos frequentes sobre a validade dessas identidades são rebatidas com um estímulo à investigação de si e mesmo à formulação de novos termos que contemplem ainda melhor, de forma mais precisa, aquilo que transborda do que se sente.

me sinto provocada, fico fascinada com essa movimentação entre pessoas tão jovens. talvez principalmente por serem tão jovens ♥

é material pra mais castelos que vêm aí! como isso tudo te atravessa?

vique