segunda-feira, janeiro 19

Cor-de-dois

Dizem que o nome da cor não é igual ao da fruta - tem que fazer referência à fruta quando não é dela que a gente tá falando. É "cor-de-laranja", se a Laranja não estiver presente. Nada mais nesse mundo - nada além dos bagos suculentos e cheios de vitamina C -, teria o direito de tomar aquela tonalidade para si ou alegar que é mais sua que de qualquer outrem.
Pois bem. Naquela noite, a Lua foi ousada o suficiente.
Ninguém esperaria uma postura como essa vinda de um astro tão terno e conhecido, pois não era rotineiro tê-lo como ladrão - talvez roubasse do Sol um pouco mais que a quantia ofertada de brilho em ocasiões especiais, mas uma cor?
Apesar das evidências, porém, não sei se posso classificar o sequestro como um crime, porque a voz da contrariedade não se fez ouvir.
O mar respirava calmamente, tomando e devolvendo ondas; fazendo a água molhar a areia fina e já úmida da praia. Ele refletia a maravilha que acontecia sobre si, em meio ao breu noturno, e tudo mais refletia o delito fantástico: o mar, as nuvens, as estrelas, o sorriso dos dois e o calcário sob seus pés. Envoltos em um abraço, sentiam a cor invadi-los, vibrante e harmoniosa, enquanto espalhava-se por aquele céu nublado de dezembro.
A Lua estava baixa e volumosa. Calada, contemplava os olhares que a admiravam compassivamente. Ela tinha uma remota consciência da própria beleza, mas estava extasiada com cada abraço iluminado por uma cor própria... a cor-de-dois.

Beijocolates,
#V