quinta-feira, agosto 16

Teste 063

FRIAMENTE FELIZ
(Sara e Daniel - nomes meramente ilustrativos)

Sara chegou radiante de mais uma manhã lotada e atarefada, mas estava se sentindo culpada. O sorriso bobo em seu rosto denunciava o que lhe estava acontecendo, mas não fazia jus a quem realmente merecia os seus pensamentos esperançosos e lúdicos.
Ela desabotoou a camisa, jogou a farda no cesto e enfiou-se debaixo do chuveiro, sentindo as gotas rolarem pelas costas úmidas. O brilho nos olhos, hesitante e terno, a guiava por uma rotina costumeira, enquanto a tarde se esvaía. Sabia que a hora de falar com Daniel se aproximava a cada passada de pente pelos cabelos, mas não estava nem um pouco empolgada. Estavam namorando há três meses e era infeliz a distância curta entre as duas cidades que ela não queria percorrer. Eles se encontraram duas vezes e, já na segunda, ela sentia esvair toda aquela paixão que pareceu contagiá-los havia sete meses.
Ela obrigou-se a chorar um pouco, mas parou assim que se deu conta de que as lágrimas não tinham causa a ruptura iminente, e sim saudades. Saudades de Artur e do modo como o seu abraço a fazia se sentir segura. Culpou-se, desesperada. Jamais colocaria fim em uma historia se não pessoalmente.
Um bipe se fez ser ouvido pelo apartamento: eram sete horas da noite. Sara aproximou-se da tela do computador, sentindo o coração descompassar, mas uma onda de frustração a deixou acabada: era só seu namorado.
A conversa costumeira tomou outro rumo - um rumo triste, angustiante e idiota -, e não era Sara quem o estava conduzindo. Tentou controlar-se, verificando se lera corretamente as palavras misturadas e turvas pela euforia que acometia-lhe todo o ser, indevidamente.
Daniel acabara.
E ela estava radiante com aquilo.

Beijocolates,
#V

Teste 062

UM MUNDO PARTICULAR
(Amanda e Gabriel - nomes meramente ilustrativos)

A música era cada vez mais distante à medida que eles caminhavam pelos corredores abertos, cercados de jardins extremamente familiares. Amanda se sentia exposta ao frio e ao breu de mais uma noite de novembro; os shorts curtos e a camisa extra-grande não pareciam mais uma boa escolha.
Ela podia sentir todo o corpo pulsando, o coração bombardeando-lhe o seio esquerdo internamente e de modo tão intenso que podia prever o órgão transpassando-a. Evitava ao máximo encarar os óculos de Gabriel, mas sabia que ele a estava fitando. Estavam estranhamente tímidos e calados, podiam sentir as bochechas queimarem e arroxearem a cada passo dado. A respiração pesada e próxima de Gabriel perturbava Amanda de modo a enrijecê-la em hesitação.
"Eu já lhe falei o quanto lhe adoro hoje?" A voz rouca e masculina soou tão macia quanto os braços que então envolviam, quentes, a cintura dela. Amanda sorriu, ergueu uma das mãos e afastou os dois, chamando-o apenas com o olhar.
Ele a seguiu. Sentaram-se em um banco de cimento desgastado e conversaram por bastante tempo: e ela ainda sentia cada veia borbulhar em ânsia. Falaram sobre o clichê necessário, e ele indagou, risonho, o porquê da arritmia cardíaca que ele podia sentir em seus ombros.
Amanda sorriu e eles ergueram-se, dispostos a uma viagem rápida de algumas dezenas de metros. Afastaram-se do parque, em uma velocidade baixa e indecisa. Gabriel apenas parou para abraçá-la e beijar-lhe o rosto, mas, como que por natureza de seus organismos, as bocas uniram-se em um selo de confidência, e sentiu, por fim, a sensação engraçada e imprecisa em seu ventre. O frio, o desejo e a paixão que a assolavam, todos juntos em um misto de curiosidade repentina.
Era o beijo perfeito. Delicado, nobre, calmo e apaixonado; estavam a sós em seu próprio mundo, dedicados um ao outro e devotos a cada segundo de cumplicidade.

Beijocolates
#V

domingo, agosto 12

Teste 061

A muitos já contei estas historias de amor. Muitos ficaram encantados, alguns me mandaram escrever um livro, mas cá estou eu, tentando narrar, o mais romanticamente possível, esses inícios de relacionamentos apaixonados dos quais fui testemunha, ativa, passiva ou remota, e os eventuais fins dos mesmos, quando estes tiveram término. Não há ordem pessoal ou cronológica, vou escrever à medida que me venha à memória. Então comecemos a maratona.

ABRAÇO DE LONGA DATA
(Daniel e Sara - nomes meramente ilustrativos)
Sara assobiava fracamente, sentindo o estômago revirar a cada metro de ladeira que o Fiesta creme de sua mãe avançava.
Respirou longamente, buscando algum alívio para o nervosismo, e ouviu a gargalhada estridente de seu irmão mais velho vindo do banco do motorista; estava zombando dela. O sobrinho parecia inquieto no colo de sua mãe, e Sara ainda estava lívida quando João finalmente estacionou o carro a alguns metros da igreja. Ele a olhou e riu um pouco mais, fazendo dilatar a fúria que crescia em meio ao corpo embalado em tecido verde.
"Você está linda, Sara!" Elogiou-lhe a tia, logo na entrada.
Sara sorriu vitoriosa, pois sabia quão radiante deveria estar. Os cabelos devidamente escovados em um penteado que desabaria logo após o fim da cerimonia, presos por uma presilha não tão elegante que recorreu à cabeleireira, mal desviavam a atenção do longo vestido que usava, esverdeado, suave e extremamente desconfortável: ela sentia-se uma princesa, de fato.
Era segredo e ninguém jamais ficaria sabendo, mas a tensão que acompanhava a garota não vinha do casamento em si, mas de quem estaria nele. Com um calafrio, recordou as palavras de sua avó ao informar quão ansioso estava o cunhado da noiva, aquele garoto ao qual havia sido apresentada dois anos antes, e para vê-la.
Tudo aconteceu rápido demais ou devagar demais, mas, de alguma forma, lá estava Sara, cruzando a nave decorada em direção aos noivos sorridentes, carregando as alianças que selariam um vida cônjuge de felicidade e cumplicidade.
É provável que a recepção seja a parte mais esperada pela maioria dos convidados, o desespero nos olhos brilhantes e famintos dos então bem vestidos em ternos e trajes brilhantes era quase palpável. Sara remexia-se, rindo demais com o pavor que apossara-se dela: se deu conta de que os cabelos já estavam desastrosos. Seus olhos amendoados procuravam furtivamente pelos de Daniel, mas desviava do olhar do garoto sempre que pareciam perigosamente próximos. Como uma boa pré-adolescente, ela remexeu-se na pista apenas o suficiente para tentar chamar a atenção que não conseguiu roubar para si: todos estavam pasmos com ele.
"Já vamos" ela então ouviu a frase que mais temia escutar vinda da mãe.
Derrotada, esperou, em vão, um momento propicio no qual Daniel estivesse próximo à avó, para despedir-se, mas ele mal a notou. Ela tentou ao máximo ficar e só desistiu quando a buzina familiar soou do lado de fora.
Fracasso. Pesava sobre suas costas e a fazia arrastar os pés. Chegou à porta, vagarosa, e sentiu o coração acelerar em alerta subitamente, ao ouvir uma voz.
"Sara!" Chamou a voz, enquanto seu dono corria até o penteado desmanchado da garota. "Sara" ele chamou mais uma vez, acabado, e ela sorriu. Abraçou Daniel por tempo excessivo, ignorou o relógio e a culpa por atrasar a família e deixou-se envolver pelo conforto dos braços que procurou por tempo demais.

Beijocolates,
#V

domingo, agosto 5

Teste 060

Amor brota
Amor corre
Amor fala
Amor cresce
Amor pulsa
Amor motiva
Amor compartilha
Amor sorri
Amor justifica
Amor chama
Amor desregula
Amor canta
Amor dança
Amor forma
Amor paquera
Amor graceja
Amor contagia
Amor acorda
Amor age
Amor espera
Amor goza
Amor satisfaz
Amor persiste
Amor responde
Amor pergunta
Amor fala
Amor gesticula
Amor torce
Amor ama
Amor vibra
Amor vive
Amor não morre
Amor perpetua
Amor além dos horizontes e mares, amor louco, amor sem medidas
Amor
Do jeito que o amor tem que ser.

Beijocolates,
#V

quarta-feira, agosto 1

Teste 059

Querido, me desculpe.
A pouca experiência que tenho me impedem de ser uma parceira melhor.
Há coisas que parecem ser como andar de bicicleta, mas, apesar de não desaprendermos nunca, devemos lembrar que passamos um bom tempo com rodinhas e nos desequilibramos um bocado.
Estou atormentada, quase surtando.
Não sei como agir ou o que posso cobrar, me assemelho a uma dessas pirralhas da segunda serie, cuja tática de conquista resume-se a uma troca contínua de ignorância e sorrisos.
O medo do julgamento passou, a questão é conforto.
Quão confortável você estaria se eu lhe tomasse um pouco dos amigos?
Como posso lhe chamar para um dos almoços em família?
As coisas são tão reais e bonitas que chegam a nos por medo.
Quero abraçar-lhe, rir e conversar um pouco, como nos velhos tempos recentes, mas quando terei espaço para isso?
Me torturo e martirizo sobre a atenção que lhe dou, dia e noite, mal bebo água.
Me preocupo com minha saúde mental, com essa sanidade vestigiosa que aos poucos se esvai.
Um suspiro por vezes arranha minha garganta seca, me fazendo pigarrear um pouco e voltar para mais um desses episódios de How I Met Your Mother, e eu sorrio esperançosa.
Esperançosa não apenas porque hoje começa um novo mês de aulas, mas também porque... Bem, a esperança é a ultima que morre, é o que dizem.

#V