segunda-feira, setembro 29

Aquela necessidade


Caridade, voluntariados, envolvimentos com política e ativismos, alguns criando bandas, conquistando medalhas, viajando em projetos de desenvolvimento humano e até ficando em casa em projetos de desenvolvimento humano. Tem amigos vendendo suas criações, começando a ter uma perspectiva de vida adulta e é tudo bastante admirável, mas o que exatamente nos levou a essa mentalidade?
Quando estamos crescendo, fazemos varias coisas sem nos preocupar muito com o futuro. Por que nos preocuparíamos? A morte é uma coisa muito distante pra uma criança (pelo menos na realidade na qual fui criada). Em suas cabeças, crianças são imortais (e deveriam ser). Mas vamos crescendo e percebendo que não é bem assim... A vida é extremamente frágil e os planos sempre podem mudar, tudo é produto das condições. Visto isso, percebemos também que a qualquer momento podemos morrer, e a morte não é exatamente atrativa quando se percebe que não realizou nenhuma grande coisa na vida até então. Disso, surge a necessidade de fazer a diferença, de cativar pessoas e ser eternizado em memórias, discursos, citações, feitos e etc., qualquer coisa, realmente, que tenha um impacto nas pessoas ou até, pros mais influentes, no mundo.
Essa historia toda de fazer a diferença pode, se aplicada na direção certa, impulsionar o mundo pra frente. Ela faz as pessoas terem novas ideias, fazerem caridade, solucionarem problemas e/ou buscarem fazer o certo. Eu acho que posso dizer que estou começando, agora que acabou o colégio, a perceber isso nas pessoas que me cercam.
Se a natureza não impõe essa necessidade sobre algumas pessoas, sempre podemos contar com os discursos inspiradores de figuras como Gandhi, com seu "seja a mudança que você quer ver no mundo" ou Steve Jobs, com aquele discurso no qual disse "lembrar que eu vou morrer é a ferramenta mais importante que eu já encontrei pra me ajudar a fazer as grandes escolhas da vida" e várias outras pessoas que tenho certeza que devem ter saltado às mentes de quem me lê. Além, claro, daquela vez que você tava conversando com aquele seu amigo bem prafrentex e ele falou uma coisa do gênero também. Afinal, não precisa ser uma personalidade famosa pra ter uma mente brilhante.
Na verdade, não é preciso fazer nada de excepcional, muitas outras pessoas já devem ter feito aquilo que você tem em mente, mas o que importa é que o faça com um toque pessoal, algo que te identifique, que assine seu nome e naquele ato registre um traço da sua personalidade. O importante é não se omitir. Vemos tantas pessoas que evitam abrir a boca ou mexer um dedo com medo de críticas e reprovações, mas celebrando aqueles que o fazem, mas, no fim, a participação ativa em causas válidas contribui não só para o crescimento individual como pra o de toda a sociedade direta e indiretamente afetada pelo efeito borboleta de cada ideia posta em prática.
Acho que todos temos uma certa admiração e, no fundo, queremos ser Zumbi liderando ex-escravos aos quilombos, queremos ser Gandhi em greve de fome contra os ingleses, queremos ser Chico Buarque escrevendo músicas com mensagens inteligentes, queremos ser nós mesmos fazendo algo que nos faça ter certeza de que não foi tempo perdido. Somos tão jovens.

"tu deviens responsable pour toujours de ce que tu as apprivoisé"
- Antoine de Saint-Exupèry
(tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas)

J

sábado, setembro 27

Ser Radical

Esses últimos anos certamente têm sido atribulados para um começo de século. Uma crise mundial. Uns vinte golpes de Estado. Protestos. A supremacia do mandarim sobre o inglês… Mas devo dizer: aqueles tais “radicais”, explodindo-se dia após dia, em nome da pátria, dos princípios e de qualquer outra questão sua, são problema maior.

Os dez ou doze carros explodidos por semana, e o mau hábito de atirar veículos voadores contra cartões postais são aspectos preocupantes nos dias atuais, sim, mas a motivação de tais atos pavorosos são ainda mais.
O que vêm à sua cabeça quando alguém diz ser radical? Pode ser que, no contexto do brasileiro, não um homem-bomba. Talvez um militante do PSol. Um jovem anarquista. Ou ainda (por que não?) uma manobra perigosa de skate.
Mas o que, afinal, é radicalismo?
Radicalismo, segundo a definição que nos dão os próprios “radicais”, é ir até a raíz, até o fundo das questões. É se debruçar sobre um problema e procurar sua gênese, fazendo o máximo possível para encerrá-lo, mesmo que isso fira alguns - ou muitos - interesses. Ora, mas, por este significado, se formos um pouquinho egoístas, seremos todos radicais! Mas até que ponto iríamos por uma ideia? Pintaríamos muros ou morreríamos por nossos princípios?
É aí que deve-se distinguir radicalismo de sectarismo.
O sectário é o radical que passou dos limites: ele toma sua posição como verdadeira e absoluta, e não mede esforços para propagá-la; é intolerante, fechado a diálogos: não quer conversa. E vem sendo confundido com o radical que não achou mortes e estupros uma boa propaganda.
A simbiose entre paixão e terror vem sendo difundida como harmônica pelos intolerantes. Para a grande massa, pouco crítica, que recebe, indignada, seu jornal parcial de domingo, o universitário inconformado com a política de seu país parece estar perigosamente próximo de tomar uma medida drástica. Sectarismo e radicalismo se fundem no senso comum. Na hora em que um manifestante começa a gritar palavras de ordem, elas passam a ser confundidas com os gritos do Terror, e fecha-se o debate. A própria sociedade se torna aquilo que repudia, ao tapar os ouvidos em nome de uma pretensa autodefesa.
Fico, por exemplo, extremamente consternado na hora em que a mídia chama de “terroristas” os meninos que explodiram um rojão em um pobre cinegrafista. Entre a bomba que eles estouraram e a dos sectários islâmicos existia uma enorme distância, mesmo que o mecanismo básico (e, em última instância, os resultados finais) tenham sido os mesmos. Ambos são dispositivos que, uma vez, acesos, lançam estilhaços e chamas por todos os lados. O porquê de terem sido acesos, entretanto, muda radicalmente: enquanto o terrorista o faz para matar o maior número de pessoas possível, para causar o terror, os jovens visavam afastar a polícia, combater o terror. Não havia aí o traço de intolerância que pressupõe o sectarismo, a intenção de calar um problema latente. 
Imagine que estamos em uma roda, brincando de “batata quente”. O calor do tubérculo nos queima as mãos, e por isso não podemos segurá-la por muito tempo. O convencional joga a batata para um outro que esteja ao seu lado. O radical corre com a batata em mãos, ainda queimando seus dedos, e a mergulha em água fria. O sectário, por outro lado, a joga no chão, pisa, e diz que não quer mais brincar.
Lhes parece justo confundir quem reage tão diferentemente à posse de um tubérculo a altas temperaturas?

Breno

quinta-feira, setembro 25

Curta empatia

"Me vire ao avesso, me ponha de cabeça pra baixo e tente entender as coisas como eu as vejo..." - Gomez
#V

segunda-feira, setembro 22

Descartando

Uma vez, a mãe de uma amiga minha me disse que tudo o que a gente realmente quer para as nossas vidas eventualmente acontece. Obviamente, eu questionei, mas, depois de perceber alguns exemplos na minha própria vida, percebi que, com um minimo de esforço sincero na direção certa, as coisas acontecem e acho isso simplesmente o máximo. Não sei se tem alguma evidencia espectral-filosófica ou científica de que isso acontece, tenho quase certeza de que nada confirma, mas é uma forma bastante positiva de se olhar a vida e se questionar o que você REALMENTE quer para si, sabe? O que você sabe que PRECISA fazer acontecer pra ser feliz e satisfeito consigo mesmo?

Meu cérebro de madrugada vai de um lado pro outro e eu tava agora a pouco pensando sobre aquela historia de Descartes de que Deus existe porque é perfeito, e, se ele é perfeito, ele tem a perfeição da existência. Mas aí é que tá: existir implica em viver? Alguém que já morreu pode ser dito "existente"? Algo que nunca viveu pode ser dito "morto"? Acabei de pesquisar aqui e achei que "vida significa existência. É o estado de atividade incessante comum aos seres organizados. É o período que decorre entre o nascimento e a morte". Certo, então. Se Deus é eterno, nunca nasceu e nunca morrerá, portanto não tem vida. Se a morte é a ausência de vida, então Deus estaria morto... Mas se vida significa existência, algo morto imediatamente deixaria de existir? Um pedaço de pedra, então, seria ilusório, inexistente no plano real, por não possuir vida? Deus, então, seria como o pedaço de pedra em questão? Ilusório e existente apenas no intelecto? Faz sentido, exceto pelo fato de que cada célula dos nossos corpos é formada por partículas infinitamente menores que, isoladas, poderiam ser consideradas mortas e, portanto, ilusórias. Como seres 'reais' como os humanos poderiam ser compostos de infinitas partes ilusórias e inexistentes? Então seríamos somente ideias, uns nas cabeças dos outros? Mas quem garante que sequer existem outros? O que nos garante que toda a vida e mundo e realidade que pensamos conhecer não é só o fruto da imaginação do primeiro ser pensante de todos os tempos? Quem garante que TUDO não é só uma farpa da poderosa imaginação do "criador" e "Deus" não é apenas a forma como a mente pensante quer que todos os seres que ela imaginou se refiram a ela?
Claro que a teoria de Descartes não é a unica existente e, como ser humano, ele pode facilmente ter criado uma teoria falha e cheia de brechas. Não vou ficar aqui analisando cada pensador e cada teoria, até por desconhecer a grande maioria delas, mas principalmente por causa do sono.
Vou sair só depois desse pensamento: Se a grande mente pensante tivesse um personagem em foco, você, por que ela não faria da sua vida a mais perfeita possível? E outro: se você não for o personagem principal da mente pensante, o que te faz pensar que ela te daria consciência pra pensar qualquer uma dessas coisas? Mas, de novo, a perfeição sequer existe? É uma ideia tão abstrata e distante que nem milênios de humanidade conseguiram definir propriamente em nada que não fosse o chamado "Deus". Sendo que, pelo que eu percebi em experiencias e contatos com diferentes pessoas, o deus de cada pessoa tem traços diferentes e propósitos diferentes. Quem garante que o que chamamos de "deus" não é pura e simplesmente nossa própria consciência, nossos ego e super-ego combinados? Será possível que as religiões nada mais sejam do que pessoas que são regidas pelos mesmos princípios se reunindo pra louvar o quanto suas mentes pensam parecido?

Quero deixar claro que eu tenho ideias mais bem formadas sobre as coisas do que isso. Esses foram só questionamentos pra contestar o pensamento do qual discordo, não deixam de ser questões válidas a se considerar...


#J

sábado, setembro 20

Políticas Pudicas

Época de eleições. Os ânimos se acirram, comitês se espalham por toda cidade... Cavaletes, balões e folhetos ocupam nossa visão, com propostas de mais saúde, mais educação, mais renda - como se nunca tivéssemos ouvido isso antes!
No meio de tanto conteúdo e debate, perguntas tendem a aflorar. Todos estamos curiosos para saber mais sobre o Sr. Político - sobre sua habilidade administrativa, sobre sua preocupação com a precariedade de nossos hospitais e sobre aquela aparição do irmão do Sr. Político nas enquetes de fofoca. Mas julgamos, sem nos dar conta, o Sr. Político pelo sorriso pouco convincente em campanha, imaginando, sem abusar de nossa criatividade, que a motivação escassa dele seja por falta de sexo.
SEXOPOLÍTICASEXO
Por que seria tão importante saber se meu candidato tem uma vida sexual ativa ou não?
Talvez boa parte da resposta possa ser encontrada numa análise da imagem de um celibatário perante a sociedade: para o ser humano regular, o que implica uma pessoa que não explora sua sexualidade? Seriam pessoas bem frustradas, que descarregariam a energia sexual acumulada em alguma obsessão. Seriam pessoas infelizes – e é justamente aí que jaz o problema: não confiamos em quem não expressa as próprias felicidade e satisfação.
Se um candidato se mostrasse pouco entusiasmado ou sorridente, você votaria nele?
Deixemos de lado os preceitos do celibato. O Sr. Político, assim como qualquer outro que possa abster-se de atividades sexuais, não precisa ser encaixado em nenhum estereótipo. Ele é apenas ele mesmo, e seu carisma, sua oratória, o uso de seus músculos faciais, nada nos diz em julgamento de sua capacidade de exercer brilhantemente sua função nos representando,
O fato é que, na verdade, transar ou não não faz a menor diferença na boa governança de uma pessoa. Compromisso, consistência e boas propostas, essas sim são as marcas do bom político; além, é claro, da notória “vontade política”, ironicamente ausente em boa parte de nossos candidatos.
Mas, então, por que questionar atividade sexual é tão importante? É uma questão chula, indiscreta... Ela denota um certo grau de intimidade com o político, mostra a liberdade que todos nós deveríamos ter de questioná-lo e, enquanto não formos autorizados a colocar qualquer pergunta que acharmos relevante a nossos políticos, não nos sentiremos representados, e não seremos representados.
O sexo não rege nossas vidas, e muito menos um grande cargo representativo. Não são celibatários, afinal, os que coordenam um dos maiores órgãos de caridade do mundo? Ainda assim, paralelo a isso, o que nos faz felizes, se não a ideia de liberdade?
 Breno

quinta-feira, setembro 18

Querer alguém

este texto foi confeccionado sob efeito de sono
É comum querer um bom romance. Em algum ponto de nossas vidas, já quisemos, desesperadamente, sentir o calor dos dedos de um certo alguém em nossas mão. Sonhamos com o toque hesitante, com os sorrisos provocadores, com os segredos, com o mundo próprio do casal, que parece surgir em torno de um beijo apaixonado. Sonhamos, e sonhamos alto. Vemos, claramente, todas as vantagens de uma boa e amada companhia em uma tarde tediosa de domingo. Mas, se uma historia de amor pode ser tão boa assim...

POR QUE NÃO NAMORAR?
Por proposta de um professor, a turma teve de dialogar sobre os relacionamentos amorosos passados. Fui inquerida sobre o meu namoro e, finalmente, após cinco anos, me dei conta da razão de termos acabado: eu não gostava das obrigações. Me perguntaram, então, o que mudou desde então. Pensei, pensei... e descobri que não mudou muita coisa: continuo detestando a ideia de ter que falar com alguém todos os dias e ter que atender ao telefone todas as vezes que esse certo alguém ligar. O comprometimento não lhes parece tedioso?
Há desejos e necessidades que devemos suprir de alguma forma. Momentos e olhares que devemos compartilhar com alguém. Então a nossa cultura inovadora e ousada nos apresenta uma solução: o sexo casual. A modo amplo, condeno o envolvimento compulsivo com estranhos, mas que mal faz aprofundar uma velha amizade?
A amizade colorida faz sucesso aos sussurros. É secreta. Ninguém anuncia que andou prensando o melhor amigo contra a parede -  e por quê? Porque não há compromisso. Podemos dar atenção aos nossos apelos sexuais e nem precisamos falar por horas ao telefone sobre como foi o nosso dia. Mas será essa a resposta para todos os nossos desejos? Por algum tempo, é capaz que os beijos livres nos supram em todos os aspectos, mas, em algum ponto de nossas vidas, perceberemos que há algo mais. Enquanto indivíduos, temos apelos que transcendem o plano físico. Precisamos sentir o perfume que não é nosso no travesseiro com o qual dormimos e sorrir, memorando algum sorriso atraente e distinto que o dono daquele cheiro nos abriu. Podemos chamar de carência, mas não me apegarei a ela.
Me dou conta, hoje, que não me canso de falar com os meus amigos. Falo com eles todos os dias e sou capaz de passar horas conversando bobagens, ainda que esteja com sono ou mal humorada. Não me parece esforço algum atendê-los, e me recordo facilmente deles se ouço determinadas músicas ou como determinadas coisas. São meus amigos, e sinto prazer em fazer tudo aquilo que me custa tanto a fazer com um namorado. O compromisso é diferente? Só porque não beijo esses amigos aos finais de semana, a rotina tediosa é, de repente, empolgante?
Conhecemos bem a amizade com benefícios. Mas e os benefícios com a amizade?
Penso que, se conseguisse converter uma grande amizade em um namoro, seria maravilhoso. Teríamos liberdade para falar e fazer qualquer coisa, sem receio algum, e seria tão divertido quanto o relacionamento aberto sobre o qual falei, exceto, é claro, pela questão da abertura. Mas quantos anos nos demanda solidificar uma amizade assim? E por quantos de nossos amigos sentimos a tal da atração?
Muitos são os defensores da friendzone. Afinal, isso sequer existe? A amizade pode impedir, de alguma forma, a atração entre duas pessoas?
Muitas perguntas sem resposta, muitas respostas sem pergunta e muitas incertezas sobre certezas, mas uma clara ilusão de certeza: por enquanto, estou muito bem sem ter que segurar a mão de ninguém.

"One more fucking love song, I'll be sick" - Maroon 5

beijocolates,
#V

segunda-feira, setembro 15

Será que alguém cobriu os biscoitos?

Às vezes eu me pego pensando em como tudo seria tão mais simples se eu seguisse os planos, os planos óbvios que são receita pra o sucesso, do tipo estudar rotineiramente e manter o assunto em dia, não passar a tarde toda na internet, dormir cedo pra não ficar com sono na aula, etc. Mas nunca é tão simples quanto parece, sempre aparecem "coisas" e motivos pra sair do planejamento inicial.
Então... Um dia desses duas amigas minhas vieram aqui em casa passar um tempo, bater um papo e, pra mim, tirar a cabeça de algumas coisas. Fomos no mercado comprar ingredientes e passamos a tarde na cozinha ouvindo musica alta, cortando chocolate, batendo massa e fazendo cookies (tenho certeza de que existem fotos no celular de alguma de nós). Conversamos sobre dramas recentes e festas futuras, queimamos duas fornadas de biscoitos e fizemos o bolo do aniversário do meu pai (e é assim que nos mantemos em forma).
O ponto do post não é guloseimas assadas, isso foi só explicando como os cookies chegaram na minha mesa, porque, desde que todos foram dormir e todas as luzes da casa estão apagadas (menos a do meu quarto), a única coisa que passa pela minha cabeça é "será que alguém cobriu os biscoitos?". De verdade, imagina que lástima seria termos passado a tarde toda fazendo todos esses cookies pra as formigas devorarem-os? Eu não posso ser a única que fica noiada com algumas coisas antes de dormir, certo? Coisas que eu teria como resolver, mas bate aquela preguiça ou medo da casa em breu ou até a decepção de me dispor a levantar e ir até a cozinha só pra descobrir que, de fato, os biscoitos haviam sido cobertos...
Talvez eu não faça isso somente antes de dormir, até porque amanhã recomeçam minhas aulas e já bateu aquele sentimento de não ter realizado nem metade das coisas em uma das minhas listinhas do que fazer durante as férias. Não li aqueles mil livros nem assisti aquelas vinte séries ou aqueles vários filmes cabeça que me fariam questionar a vida, o universo e tudo mais. Passei a primeira metade das férias quase sem pisar em casa, todos os dias na casa de Vic (fazendo cookies) ou ocupada e conhecendo gente nova, o que foi ótimo, mas fora dos planejamentos. A segunda metade eu passei em casa, num extremo oposto, procrastinando, descobrindo novos canais no youtube e mal fazendo qualquer outra coisa, sem "interessâncias" nem nada além de conflitos internos de quem fica ocioso demais. Não há motivos pra eu simplesmente ficar em casa sem fazer nada (esses motivos nunca existem, não é mesmo?). Por mais que eu tente justificar dizendo que eu estava cansada dos meses de aula, mas não estava, eu estava só naquela preguiça de fazer algo, medo de fazer e acontecer algo de ruim ou até a decepção de me dispor a fazer algo, me dar ao trabalho de me esforçar só pra descobrir que o esforço foi em vão, que não fez nenhuma diferença...
É o peso de medo sobre medo que nos puxa pra baixo e nos faz não fazer o que sabemos que devemos. No dia seguinte, eu fui na cozinha quando acordei e os biscoitos estavam cobertos, mas isso não me impediu de me preocupar, e a preocupação não me impulsionou a fazer algo a respeito, mas a falta de impulso não impediu o problema de ser resolvido por outra pessoa. Talvez fosse uma lição melhor se as formigas os tivessem devorado.

"Do you like the person you've become under the weight of living?"

#J

quinta-feira, setembro 11

Tiramisù!

São momentos raros, mas são momentos desesperadores, estes em que sentimos a própria fraqueza nos sufocar. Os músculos não se movem, e o ar custa a entrar. Ficamos imóveis, incapazes de enxugar as lágrimas que escorrem, amargas, pelo rosto. Nos sentimos tão frágeis e indefesos, que a ideia de obter qualquer solução ao problema parece ridícula.
Precisamos de ajuda. Mas que tipo de ajuda?
Meu quarto está bagunçado. Deixei a roupa do balé jogada por cima da cama, onde já estavam a caixa dos meus mocassins novos, as calças jeans que usei mais cedo, os comprovantes de matrícula do curso de Inglês e a papelada das vacinas que andei tomando. Só me dei conta agora de que as visitas viram as minhas calcinhas penduradas pelo banheiro, e sei que, dentro de dois dias, não caberá mais nada na escrivaninha. Quando a bagunça realmente me atrapalhar, vou prestar atenção nela e começar a desfazê-la. Vou tirar um dia para organizar o meu quarto, embora saiba que levarei apenas uma ou duas semanas para me deparar mais uma vez com a desordem. É curioso que só consigamos resolver nossos problemas quando alcançam um grande grau de complexidade, e, do mesmo modo, parece que precisamos chegar ao fundo do poço para conseguir nos reerguer.
Muitos se orgulham por serem "lobos solitários". Dizem, com um sorriso no rosto, que não precisam de conforto, porque podem consolar a si mesmos. Sendo eles seres humanos, animais naturalmente codependentes, não poderiam estar mais enganados. É importante que choremos tudo o que temos para chorar, ainda que fiquemos desidratados e com dor de cabeça. Podemos chorar sozinhos - e choramos. Mas jamais seremos capazes de avaliar e compreender uma situação na qual estamos tão imersos, não sem companhia.
Quando admitimos a nossa vulnerabilidade para alguém, sentimos o rosto queimar de dentro para fora; nossos olhos umedecem, nos chega um pouco de vertigem e podemos sentir os batimentos cardíacos em nossas orelhas. Parecem sintomas familiares? "A vergonha é, por natureza, reconhecimento. Reconheço que sou como o outro me vê... Assim, a vergonha é vergonha de si mesmo diante do outro: essas duas estruturas são inseparáveis. Porém, ao mesmo tempo, preciso do outro para perceber plenamente todas as estruturas do meu ser" disse Carl Schneider.
Precisamos do outro.
O outro não é qualquer outro, devemos selecioná-lo com cautela. Quando um católico procura um padre para confessar os seus pecados, está fazendo do padre o seu ouvinte, e espera que, expondo-se a ele, obtenha respostas para os próprios erros. Se você opta por um psicanalista, também espera que ele o ajude a se descobrir como indivíduo... Mas esqueça a experiência, o profissionalismo e a sabedoria: somos jovens. Somos teimosos. Somos amigos.
Quando estamos encolhidos sob nossas cobertas, sem sequer conseguir falar direito, esticamos nossos braços, alcançamos o telefone e pedimos socorro para aquele único amigo que nos viu chorar. Esperamos que ele entenda nossa voz engasgada, e nos encolhemos ainda mais sobre a cama - bem antes de suspirarmos, alongarmos nossos membros e relaxar. A voz do outro soa ao telefone, e uma certa paz se desenvolve dentro de nós. As palavras erradas e desajeitadas do amigo nos sossegam porque, de repente, nos damos conta de que não estamos sós. E não há nada melhor que descobrir que não estamos sozinhos nesse mundo gigantesco de tecnologia e preocupação.
Sobre o tiramisù, bem, não tenho certeza de como aconteceu, mas penso que tenha sido um dia difícil para um certo alguém. Imagino que tenha chegado exausto àquele pequeno restaurante e sorrido à primeira garfada daquela sobremesa estranha. "Questo tirami sù" deve ter dito, e quis dizer, em italiano, "isto me faz feliz". Acredito em sua real felicidade naquele exato momento, mas há doçura que nos agrade além do paladar.
Mais que qualquer sobremesa do mundo, a amizade é essa coisa gostosa que alivia o coração.

Beijocolates,
#V

segunda-feira, setembro 8

Novidades

Então, né... Finalmente resolvemos estabelecer alguma responsabilidade em relação ao blog e chegamos ao acordo de que cada uma postará conteúdo novo em um dia específico.
Podem esperar postagens sabor baunilha todas as segundas-feiras, e sabor chocolate todas as quintas!

Uhul!
(gritos eufóricos ao fundo)

Estamos ambas começando uma nova fase: Vic entrando na faculdade e eu indo pra um segundo, e ainda mais difícil, período, então por que não encher ainda mais nossas agendas com uma responsabilidade extra? Mas, falando sério agora, eu sou muito mais produtiva quando eu boto na cabeça que não vou ter tempo de fazer tudo o que preciso a não ser que eu siga um determinado cronograma, então espero que isso funcione como um incentivo de alguma forma...
Não sei se essa postagem já conta como um novo começo de era de gente fina, elegante e sincera, já que é uma segunda-feira e aqui estou eu postando alguma coisa... mas consideremos que sim...


Let the games begin

#J

domingo, setembro 7

Algo

Balanço, balança, peso, cadeira, sofá.
Balance, balance, respire, suspire, acompanhe.
Hesite, sorria, hesite, respire, suspire, deixe chegar...

Questione, mostre, experimente, recuse e sorria.

Observe.

Observe o olhar fixo, turvo, dilatado, e condenado.
Tome uma dose de ar.

Certeza, dúvida, mas seu olhar está vidrado.
Um sorriso comedido, torto, sacana e amado.


Pesa e puxa, faz-se sentir.
Prenda, relaxe e solte o ar.
Prenda, segure, não deixe ir.

Não deixa ir embora, que ainda é cedo!
Embora, nessas horas loucas da vida, nunca seja tarde ou cedo demais para amar.

#V