segunda-feira, janeiro 28

Teste 075

Saudade é um mal que vem por bem.
Surge nos sorrisos, na alegria, no que em tudo isso põe fim.
Reúne rebeldes e sentimentalistas, chorando ou gemendo por memórias raras de um tempo passado distante ou nem tanto.
Mantém despertos aqueles que temem pesadelos, ansiosos por poder usufruir de cada momento, revivendo...
Mas também a saudade motiva o regresso dos que penaram a ir, a princípio, e então lamentam a volta.
Pede, sedenta, um forte abraço de conhecidos e um beijo naqueles cujo rosto, por muito, não se fez tátel.
Sopra ondas, com a mesma brisa de verões que se foram, desenhando serpentes na areia, com a mesma força a fazer sacudir os galhos de uma árvore próxima ao pátio dos primeiros passos.
A saudade é um mal que vem por bem porque, por mais que faça doer, faz também com que tome-se a necessidade de ter a dor cessada.

Beijocolates,
#V

quarta-feira, janeiro 2

Teste 074

No clima de "adeus, ano velho", trecho de uma das piores músicas festivas, em minha nada humilde opinião, vamos nos despedindo de 2012 com um alívio particularmente esperançoso - coisas novas são excitantes, assim como o cheiro de borracha recém comprada é estimulante e nos faz pensar "desta vez..." É um pouco cômico, além de bastante depressivo, que imaginemos tudo em iminente mudança pela troca de um número - talvez dê certo em jogos de azar ou provas de vestibular - quando o reveillón deve apenas ser um pequeno empurrão para mil novas escolhas e situações aptas à nossa vontade. Somos nós quem fazemos ajustes e reparos em nossas vidas, em nós mesmos, não é recomendável que esperemos, altos pelas taças de champanha, algo incrivelmente extraordinário acontecer à meia-noite - não já tínhamos superado contos de fada, Cinderela?
Acabamos tão sufocados por retrospectivas televisivas que mal nos sobra um momento vago a discutir pontos altos e baixos de meu ano - estou certa da prioridade de minhas conquistas amorosas sobre a morte de alguns artistas superpopulares: não para o mundo, mas para mim mesma. Porque tanto nos envolvemos com ladainhas escritas, dirigidas, cantadas ou redigidas que acabamos esquecendo de ser um pouquinho egoístas quando ser egoísta é algo realmente necessário. Eu aconselho que façam vocês mesmos uma rápida reflexão sobre os beijos que deixaram de roubar, as notas escolares que poderiam aumentar, o emprego ao qual não deixaram de se dedicar e, principalmente, sobre os sonhos que até hoje tentaram reprimir, porque, se há algo que deve vir à tona em um início de ano, em um período de renovação, este algo é sonhar - mas não apenas por sonhar: para realizar.
O branco praxe que usamos a cada ano vem de uma visita de Dom Paulo VI (antigo papa) à ONU em um pedido oficial pela paz - eis a origem da tradição. Dia 1 de janeiro é o dia mundial da paz, mas não pense que foi alguma aleatoriedade qualquer, pois estas coisas dificilmente surgem sem propósito. Deste modo, em um tempo de felicidade e recomeço, temos que olhar um pouco para trás e nos perguntar se está realmente tudo bem com o que jaz no passado - nunca é tarde para um pedido de perdão. Recomeçar pode ser incrivelmente difícil, mas, quem sabe, se trocarmos o termo por "reconstruir"...

"O pai então perguntou ao filho como havia, em tão poucos minutos e tão pouca idade, formado a imagem do mundo que acabara de desconstruir. O filho olhou-o, cedendo-lhe um sorriso inocente e segredou: havia um homem no verso; consertei-o e, então, estava pronto." - Uma dessas historias que crescemos ouvindo.

Beijocolates,
#V