quinta-feira, janeiro 16

Teste 100

Eu jamais poderia ter imaginado que, no teste final, escreveria o que estou prestes a escrever. Apesar disso, não me surpreendo o suficiente - se estamos em constante mudança, a Victoria de hoje não deveria chocar tanto a Victoria de dois anos atrás. Então, dois anos depois de anunciar a abertura de cem testes inconsequentes, repito o tópico de forma diferente...
A CULPA DE NOZ
Um peso parece latejar em todo o nosso ser. Pesa, pesa, pesa. A visão é comprometida, torna-se turva - e surgem vozes secas a consolar lágrimas reais ou ilusórias. "A culpa não é sua." Acreditamos, projetando mágoa a outro autor do fracasso. A culpa, afinal, nem sempre é minha. Nessas palavras que viraram provérbios e ditados populares, encontramos o conforto de uma mentira. Negligenciamos a responsabilidade e esquecemos que, em vezes alternadas ou quase sempre, a culpa é, realmente, nossa.
Fracasso não se trata de errar. Trata-se, simplesmente, de não acertar.
O que é certo só é encontrado após quantidade significativa de tentativas. Experiências, testes, riscos a serem tomados. Quando não conseguimos enfrentar nossos desejos, surge uma frustração estranha por nossa própria existência. Culpa e arrependimento se confundem com frequência - porque fizemos o que não queríamos ter feito e deixamos de fazer o que queríamos.
Não basta ser cabeça aberta e ficar a mercê do outro - é preciso mostrar nossa essência àqueles que estão conosco. Aqui falha a teoria que separa razão e emoção. Como pensar rápido e encontrar uma solução a um problema completamente passional, sem deixar que a sensibilidade nos afete de qualquer maneira? Como tomar uma decisão imprudente, sem avaliar minimamente a situação que se desdobra perante nós?
Talvez a Psicologia já tenha estudado grande parte da culpa do ser humano - fatores de maioridade mental, lucidez, ou sei lá mais o quê. Lamento desapontá-lo - lamento, sinceramente, pois fiquei deslumbrada com seus hábitos -, mas não estou familiarizada com qualquer teoria proposta por Freud, Nietzsche ou um outro que fuja ao clichê. Estou, porém, bastante familiarizada com minhas próprias oscilações de humor, com meus próprios sonhos, com meu próprio labirinto emocional.
Penso que todos somos iguais (em potencial). Qualquer um de nós pode acordar mal humorado ou duvidar da existência de Deus. Qualquer um de nós pode se sentir inseguro ou rejeitado, e igualmente sentir-se bem consigo mesmo. Qualquer um de nós pode esconder lágrimas ou autoria de lindos sorrisos. Qualquer um de nós pode se sentir esquecido, traído, deslocado.
E qualquer um de nós pode ser o herói de qualquer outro de nós.
Eu descobri algo fantástico ao longo dos noventa e nove testes que me trouxeram até aqui: descobri que, como Me. Agathe anunciou certa vez, "nós sempre podemos mais do que imaginamos." Aprendi que nós mesmos impomos obstáculos a nossas trilhas e que, bem como os instalamos, podemos retirá-los. Quando deixamos cones laranja obstruírem a entrada de pessoas em nossas vidas, terminamos voltando à tristeza e à solidão sem ciência de um porquê.
É difícil falar - mas é preciso falar.
O falso sufocamento que impede concentração e coragem de nossa parte é, além de medo, orgulho. Um medo de ferir o nosso orgulho. Se pudéssemos ignorar o engasgo em nossa garganta e ritmar respirações longas e pausadas, conseguiríamos, no mínimo, uma chance de escutar. É importante afastarmo-nos brevemente, analisar o quadro no qual nos encontramos e buscar uma real solução ao embaraço que temos à frente.
Escutar o quê? Há vezes em que se trata de uma música. Há outras em que se trata de um longo casamento marcado por desconfiança, mais em que se trata de um abraço, mais em que se trata de um mal entendido, mais em que se trata de medo. Às vezes, um sorriso já basta. Às vezes, um sorriso transborda - extrapola, inunda, expõe.
Não há certezas nos riscos conjuntos. Vivemos em diálogo, sensíveis a respostas improvisadas. Como vivos estão sujeitos à morte, os sucedidos estão sensíveis a fracassos - é natural. O conhecimento popular e o senso comum que passam como herança familiar só é apreendido quando posto em prática. Precisamos sangrar, sentir a dor, entender o que machuca - e então fazer sarar.
Melodramas circenses improvisados à beira da piscina ocultam o drama real como palavrões escondem o sofrimento de quem os pronuncia em oportunidades críticas. Mas por que remoer o que já foi moído?

No dia 16 de janeiro de 2014, às 22:22,  estava me sentindo culpada e arrependida.
No dia 16 de janeiro de 2014, às 23:37, estou determinada a lutar por minha própria causa.

"Someone finds salvation in everyone and another, only pain... to be yourself is all that you can do" - Audioslave

Beijocolates,
#V

Nenhum comentário:

Postar um comentário