quinta-feira, setembro 11

Tiramisù!

São momentos raros, mas são momentos desesperadores, estes em que sentimos a própria fraqueza nos sufocar. Os músculos não se movem, e o ar custa a entrar. Ficamos imóveis, incapazes de enxugar as lágrimas que escorrem, amargas, pelo rosto. Nos sentimos tão frágeis e indefesos, que a ideia de obter qualquer solução ao problema parece ridícula.
Precisamos de ajuda. Mas que tipo de ajuda?
Meu quarto está bagunçado. Deixei a roupa do balé jogada por cima da cama, onde já estavam a caixa dos meus mocassins novos, as calças jeans que usei mais cedo, os comprovantes de matrícula do curso de Inglês e a papelada das vacinas que andei tomando. Só me dei conta agora de que as visitas viram as minhas calcinhas penduradas pelo banheiro, e sei que, dentro de dois dias, não caberá mais nada na escrivaninha. Quando a bagunça realmente me atrapalhar, vou prestar atenção nela e começar a desfazê-la. Vou tirar um dia para organizar o meu quarto, embora saiba que levarei apenas uma ou duas semanas para me deparar mais uma vez com a desordem. É curioso que só consigamos resolver nossos problemas quando alcançam um grande grau de complexidade, e, do mesmo modo, parece que precisamos chegar ao fundo do poço para conseguir nos reerguer.
Muitos se orgulham por serem "lobos solitários". Dizem, com um sorriso no rosto, que não precisam de conforto, porque podem consolar a si mesmos. Sendo eles seres humanos, animais naturalmente codependentes, não poderiam estar mais enganados. É importante que choremos tudo o que temos para chorar, ainda que fiquemos desidratados e com dor de cabeça. Podemos chorar sozinhos - e choramos. Mas jamais seremos capazes de avaliar e compreender uma situação na qual estamos tão imersos, não sem companhia.
Quando admitimos a nossa vulnerabilidade para alguém, sentimos o rosto queimar de dentro para fora; nossos olhos umedecem, nos chega um pouco de vertigem e podemos sentir os batimentos cardíacos em nossas orelhas. Parecem sintomas familiares? "A vergonha é, por natureza, reconhecimento. Reconheço que sou como o outro me vê... Assim, a vergonha é vergonha de si mesmo diante do outro: essas duas estruturas são inseparáveis. Porém, ao mesmo tempo, preciso do outro para perceber plenamente todas as estruturas do meu ser" disse Carl Schneider.
Precisamos do outro.
O outro não é qualquer outro, devemos selecioná-lo com cautela. Quando um católico procura um padre para confessar os seus pecados, está fazendo do padre o seu ouvinte, e espera que, expondo-se a ele, obtenha respostas para os próprios erros. Se você opta por um psicanalista, também espera que ele o ajude a se descobrir como indivíduo... Mas esqueça a experiência, o profissionalismo e a sabedoria: somos jovens. Somos teimosos. Somos amigos.
Quando estamos encolhidos sob nossas cobertas, sem sequer conseguir falar direito, esticamos nossos braços, alcançamos o telefone e pedimos socorro para aquele único amigo que nos viu chorar. Esperamos que ele entenda nossa voz engasgada, e nos encolhemos ainda mais sobre a cama - bem antes de suspirarmos, alongarmos nossos membros e relaxar. A voz do outro soa ao telefone, e uma certa paz se desenvolve dentro de nós. As palavras erradas e desajeitadas do amigo nos sossegam porque, de repente, nos damos conta de que não estamos sós. E não há nada melhor que descobrir que não estamos sozinhos nesse mundo gigantesco de tecnologia e preocupação.
Sobre o tiramisù, bem, não tenho certeza de como aconteceu, mas penso que tenha sido um dia difícil para um certo alguém. Imagino que tenha chegado exausto àquele pequeno restaurante e sorrido à primeira garfada daquela sobremesa estranha. "Questo tirami sù" deve ter dito, e quis dizer, em italiano, "isto me faz feliz". Acredito em sua real felicidade naquele exato momento, mas há doçura que nos agrade além do paladar.
Mais que qualquer sobremesa do mundo, a amizade é essa coisa gostosa que alivia o coração.

Beijocolates,
#V

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