quinta-feira, março 13

Praxe

Pensei que pudesse passar o resto de minha vida sem ele. Descobri, angustiada, que não posso esquecê-lo: o amei.

O amor é um tanto desgraçado: me fez feridas, me viu chorar e me chamou à atenção quando quase me distraí. Eu queria estar distraída. Mas o amor retificou sua existência dentro de mim, desmerecendo todas as minhas vontades.

Não se engane, remetendo meu amor à paixão que tem em mente: é amor-amor, o que eu sinto. Se não fosse amor, eu me teria distraído, mas não pude, você sabe, esta parte já lhe contei.

O amor é eterno e incondicional. A ele, não importa se o amante está machucado, seguirá firme, forte e voluptuoso. Também faz-se de cego para as imprudências cometidas pelo amado, perdoando-o a qualquer custo. O amor é, por isso, um tanto estúpido.

O amor é inevitável, incontrolável e irremediável: uma vez feito o amor, está feito. O amor nunca assistiu a "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças", mas teria abominado a hipótese do filme. Ele não nos deixa esquecer de ninguém que nos tenha provocado ternura.

Eu já conversei muitas vezes com o amor, mas ainda não o entendo muito bem. Talvez, para poder entender o amor, eu precise estar pura de toda a minha vida e voltar a ser um bebê. Os bebês não sabem o que Sócrates pensava sobre o amor, e talvez por isso já amem como se deve amar e sejam, por essência, amor. Pena que não saibam falar - embora, se soubessem, talvez, já não fossem puramente amor.

Quis não me importar, mas descobri que me importo, sim, com o amado. O amado, por vezes, se mostrou tão estúpido e desgraçado quanto o amor, mas, assim como amo o amor, percebi que o amo também.

Há amados, como esse meu amado, que assemelham-se bastante àqueles lindos pesos de papel. Não fazem nada, não têm lugar definido, não são muito úteis, mas, ainda que não usemos pilhas de papéis, o mantemos por perto, ainda que perdidos dentro de alguma das caixas que só tornaremos a abrir daqui a alguns anos, e fazemos isso por amor.

Se amar fosse tão bom para quem ama, ser um amante em boca popular não seria motivo de julgamento.

Amar não é fácil: dói, e dói muito. A dor do amor, porém, também faz crescer o amor. A saudade, a nostalgia, a preocupação com o outro: amor. Amor que acresce a si e à alma.

O amor não é mau por inteiro, não me entenda mal. O amor é um sujeito complicado e conviver com ele, às vezes, pode ser bastante cansativo, é verdade. O amor dá mancadas, erra, e deixa tudo por isso mesmo.

O amor parece uma criança - e até porta-se como uma. Toda criança precisa de atenção e cuidado, toma o nosso tempo, nos deixa estressados, rala os joelhos, pede uma sobremesa, chora, fala e faz muito sem pensar em possíveis consequências e toma um grande espaço em nossa vida. Mas basta um único sorriso, e já esquecemos de cada penitência. E esquecemos porque cumprimos a primeira necessidade de uma criança: lhe demos amor.


"A partir desta data,
Aquela mágoa sem remédio
É considerada nula
E sobre ela, silêncio perpétuo."
- Paulo Leminsk


beijocolates,
#V

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