quinta-feira, março 7

Teste 077

Depois de ter passado por uma aula inteira de Química desinteressante, estava pilhada. E comecei a refletir sobre quão injusto é o tempo, em algumas medidas...
TEMPOTEMPOTEMPO

Crescemos ouvindo sobre a "aborrecência", o momento em que os mais dóceis tornam-se capazes de explodir automóveis, etc., mas nunca pensamos que seria tão difícil. A crise de identidade é sutilmente posta em nossas vidas; sem autonomia adulta, sem dependência infantil, ficamos todos presos e surtados no "meio" do processo. E o que somos nós, afinal? Se nos achávamos gostosas quando cursávamos o nono ano, hoje rimos contrafeitas das pernas finas e calombadas que, graciosamente, estão ficando no passado. Mas se hoje nos achamos o máximo por ter as respostas mais inteligentes, é provável que, em alguns meses, comecemos a imaginar se éramos tão inteligentes assim: é natural; é humano e evolutivo - mas desagradável.
Se já não basta a maturidade oscilante e o organismo em adaptação, a sociedade terá algo mais a lhe propor: um vestibular. O termo está definido em um dicionário de bolso como "exame de admissão às escolas superiores", apenas, mas quem já prestou ou vai prestar sabe que não acaba por isso mesmo. A partir do momento em que colocamos os nossos pés em uma sala de Ensino Médio, deixamos de ser seres humanos e passamos a ser vestibulandos. Uma missão nos é dada: sermos aprovados - embora não seja assim tão fácil.
Diferente dos animais irracionais, os humanos conseguem investir tempo e esforço para obter uma recompensa a longo prazo - mas ninguém disse que seria moleza. Acontece que apenas 5% de nosso cérebro comanda o alterego, nossa racionalidade, enquanto todo o resto quer logo, para já, tudo o que nos fizer feliz (isso justifica alguns casais vaivéns por aí), e, em termos de imediatismo, o vestibular perde feio - o que mais tedioso a uma mente criativa que passar um ano em estudos longos a ocupar dois terços de cada dia? Combater preguiça, imaginação e a nova temporada da sua série favorita parece quase impossível... é justamente aqui onde entra o universo pendente, pois, se você achou que estatística, mol e silogismo não eram bons motivadores, é chegada a hora da pressão.
Seja por querer ou por costume, alguém sempre pergunta "como vão os estudos?" ou "passou?" (esta pode vir antes mesmo de a segunda série começar). Essas pequenas pontadas, ingênuas, fazem um despreparado entrar em parafuso: além de ter de estar morto para o mundo durante um ano, enfiado entre cadeiras desconfortáveis em uma salinha gelada, devorando volumes científicos, precisa conseguir uma boa aprovação em uma boa faculdade de um bom curso. A questão do curso começa desde cedo: Publicidade, Enfermagem, Administração, Psicologia, Nutrição, Jornalismo, Química Industrial... você pode fazer o que você quiser, desde que queira Direito, Medicina ou Engenharia.
E você pensa que, apesar dos livros que você deve ler, apesar das espinhas horrendas no rosto, apesar das festas às quais você vai ou é proibido de ir, apesar das tardes de ensaio, apesar das dezenas de matérias isoladas, apesar dos corações partidos, apesar dos sorvetes derretidos, apesar das notas baixas, apesar dos marca-textos acabados, apesar das borrachas desaparecidas, apesar das dores nas costas, apesar de ter que fazer bem a prova da sua vida, apesar dos encontros, apesar das amizades rompidas, nós conseguimos dar conta, superar o mal tempo e enfrentar a fase adulta. O que eu posso dizer? Concordo com você, ou pelo menos deveria - não me resta muita opção se eu resolvo discordar. É que o tempo avança, quer a gente acompanhe ou não. Por ora, abrimos mão de uma boa sesta e dos filmes imorais que estão em cartaz, tentando driblar os obstáculos dessa porralouquice toda.

"O tempo, às vezes, é alheio à nossa vontade, mas só o que é bom dura tempo o bastante pra se tornar inesquecível" - Chorão


Beijocolates,

#V
P.S.:Breve comentário sobre a morte de Alexandre Magno - como costume, apesar de ser contra a ideologia do falecido, as vendas dos produtos de Charlie Brown JR. vão disparar; o pequeno trecho ao fim desta postagem não vem de ibope acrescido, mas de um gosto em particular. Escutem "Vícios e Virtudes", acompanhem a letra, façam um minuto de silêncio e orem, segundo sua própria crença, por alguém que deixa este mundo para trás.
P.P.S.: Como prova do meu não-fanatismo-instantâneo, admito-lhes que não sabia quem era Hugo Chaves até o óbito - ignorante, sim, mas sincera.

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