domingo, agosto 12

Teste 061

A muitos já contei estas historias de amor. Muitos ficaram encantados, alguns me mandaram escrever um livro, mas cá estou eu, tentando narrar, o mais romanticamente possível, esses inícios de relacionamentos apaixonados dos quais fui testemunha, ativa, passiva ou remota, e os eventuais fins dos mesmos, quando estes tiveram término. Não há ordem pessoal ou cronológica, vou escrever à medida que me venha à memória. Então comecemos a maratona.

ABRAÇO DE LONGA DATA
(Daniel e Sara - nomes meramente ilustrativos)
Sara assobiava fracamente, sentindo o estômago revirar a cada metro de ladeira que o Fiesta creme de sua mãe avançava.
Respirou longamente, buscando algum alívio para o nervosismo, e ouviu a gargalhada estridente de seu irmão mais velho vindo do banco do motorista; estava zombando dela. O sobrinho parecia inquieto no colo de sua mãe, e Sara ainda estava lívida quando João finalmente estacionou o carro a alguns metros da igreja. Ele a olhou e riu um pouco mais, fazendo dilatar a fúria que crescia em meio ao corpo embalado em tecido verde.
"Você está linda, Sara!" Elogiou-lhe a tia, logo na entrada.
Sara sorriu vitoriosa, pois sabia quão radiante deveria estar. Os cabelos devidamente escovados em um penteado que desabaria logo após o fim da cerimonia, presos por uma presilha não tão elegante que recorreu à cabeleireira, mal desviavam a atenção do longo vestido que usava, esverdeado, suave e extremamente desconfortável: ela sentia-se uma princesa, de fato.
Era segredo e ninguém jamais ficaria sabendo, mas a tensão que acompanhava a garota não vinha do casamento em si, mas de quem estaria nele. Com um calafrio, recordou as palavras de sua avó ao informar quão ansioso estava o cunhado da noiva, aquele garoto ao qual havia sido apresentada dois anos antes, e para vê-la.
Tudo aconteceu rápido demais ou devagar demais, mas, de alguma forma, lá estava Sara, cruzando a nave decorada em direção aos noivos sorridentes, carregando as alianças que selariam um vida cônjuge de felicidade e cumplicidade.
É provável que a recepção seja a parte mais esperada pela maioria dos convidados, o desespero nos olhos brilhantes e famintos dos então bem vestidos em ternos e trajes brilhantes era quase palpável. Sara remexia-se, rindo demais com o pavor que apossara-se dela: se deu conta de que os cabelos já estavam desastrosos. Seus olhos amendoados procuravam furtivamente pelos de Daniel, mas desviava do olhar do garoto sempre que pareciam perigosamente próximos. Como uma boa pré-adolescente, ela remexeu-se na pista apenas o suficiente para tentar chamar a atenção que não conseguiu roubar para si: todos estavam pasmos com ele.
"Já vamos" ela então ouviu a frase que mais temia escutar vinda da mãe.
Derrotada, esperou, em vão, um momento propicio no qual Daniel estivesse próximo à avó, para despedir-se, mas ele mal a notou. Ela tentou ao máximo ficar e só desistiu quando a buzina familiar soou do lado de fora.
Fracasso. Pesava sobre suas costas e a fazia arrastar os pés. Chegou à porta, vagarosa, e sentiu o coração acelerar em alerta subitamente, ao ouvir uma voz.
"Sara!" Chamou a voz, enquanto seu dono corria até o penteado desmanchado da garota. "Sara" ele chamou mais uma vez, acabado, e ela sorriu. Abraçou Daniel por tempo excessivo, ignorou o relógio e a culpa por atrasar a família e deixou-se envolver pelo conforto dos braços que procurou por tempo demais.

Beijocolates,
#V

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