segunda-feira, julho 15

Teste 089

A pele arrepiou-se por completo ao dedilhar suave em sua nuca. Pareciam estar envoltos por uma grande bolha, distraídos do mundo exterior - ali, na troca de olhares fumegantes, residia o puro amor, em um universo à parte. Suas unhas percorreram o comprimento de se braço, e os olhos adormecidos abriram em um sorriso terno - ela deixou-se deliciar com a curva dos lábios dele. Em silêncio, pensava se ele saberia quão bem lhe faz, mas jamais poderia afirma-lo em momento tão preciso. As mãos tocavam-se em lentidão e firmeza, dispersas, mas congruentes às palavras não ditas. Conversavam - ou não? As dissertações fluíam de boca a boca, ambas cerradas, caladas e secas. Imagina se ele se importaria em passar tanto tempo a seu lado e experimenta deleite inegável. Mas quão firmes estamos sobre sentimentos alheios?
O pulso é sensível aos tímpanos, a felicidade irredutível pregando-lhe um riso à garganta. Fita-o, mais uma vez, e ergue as sobrancelhas ponderando sua insegurança. Abraça-lhe o corpo, pedindo, secreta e silenciosamente, que fique um pouco mais. Em gesto desagradável de pressa, ele esquiva-se, sem demonstrar qualquer lamento profundo. Não querendo ser abusiva, engole em seco, volta-se a outros e inicia uma nova conversa, negando ressentimentos. Guardam novamente seus romances incertos e procuram aparentar, em intuito de proteção ao outro, indiferença.
Mais tarde, ao reencontrarem-se, mostrarão dentes em gesto exultante, ansiosos por códigos próprios cujas traduções não cabem à língua em pronúncia, mas em dança e calmaria desesperadas.
Ainda não serão capazes de admitir quão necessários são um ao outro.

Beijocolates,

#V


Devemos confessar que nada nos faz mais ansiosos por algo que o contexto misterioso no qual está inserido, não é mesmo?

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