quinta-feira, setembro 19

Invisível

Vou te pedir paciência e algum nível de visualização, porque essa foi uma história verídica e prometo que não foi um sonho. (edit: achei uma imagem do que seria a escada, então nem precisa de tanta imaginação assim)


(essa imagem foi do Google, não foi foto do dia do evento)

Cenário: estamos na primeira semana de aula, e a faculdade coloca todo mundo num ônibus pra um "centro" a algumas horas da cidade. Todo mundo da mesma turma está vestindo a mesma camisa, e com bandanas coloridas. "Somos um time" é a clara mensagem - e também "aprenda quem é da sua turma" porque de fato é só a primeira semana de aula.

No "centro" tem várias atividades, algumas mais cognitivas do que outras, e todas são executadas em equipes de 6-7 pessoas. Chegamos na terceira atividade do dia, e temos que subir uma escada gigante de corda, que tem um total de 5 degraus, apartados mais ou menos 1,5 metros entre um degrau e o próximo. No caso, temos que escalar, e sua equipe é responsável por te ajudar a não se estabacar no chão (polias, cordas, etc).

Eu vou no primeiro trio de pessoas a subir. Pra deixar bem claro, minha altura é menor que 1,5m. Eu achei que ter alguma experiência com bouldering, via ferrata, acrobacia e crossfit me ajudariam a subir com alguma facilidade - eu estava errada, foi difícil pacas. Consegui subir, ajudei as 2 pessoas que estavam comigo a subir também. Fiquei com as coxas roxas e os braços cansados, mas subi.

Vou usar Marshall como personagem aqui, mas a lição que eu tirei não é especificamente sobre ele.

Mais perto do final da atividade da escada, Marshall foi escalar com outras 2 pessoas. Marshall é veterano do exército americano e deve ter mais de 1,8m. Marshall sobe com MUITA facilidade. Enquanto eu precisei me esticar entre um degrau e o próximo pra conseguir me puxar pra cima, Marshall conseguia se propulsionar pra cima só levantando a perna.

Mas Juju, o que tem essa história? - você pode perguntar

O que tem é que, nessa situação, ninguém me cobraria de ter a mesma performance que Marshall. Eu também não me cobraria de ter a mesma performance que Marshall. Ele já escalou várias coisas antes nos treinamentos dele do exército, ele é forte, alto, é natural que ele tivesse maior facilidade do que eu na escalada, mais do que natural, é visível que ele teria uma performance melhor com menos esforço.

Se a tarefa fosse pegar algo num armário alto e eu quisesse executar, eu pegaria uma cadeira e subiria nela sem nenhuma vergonha, pra alcançar o armário. Enquanto isso, Marshall conseguiria alcançar o armário sem precisar pensar muito.

Daí vamos pra uma situação invisível:

Se eu tenho um trauma e Fulano não tem o tal trauma, ele vai conseguir executar algumas funções da vida com muito mais facilidade, agachado, de olhos fechados, enquanto eu me esforço horrores pra conseguir fazer a mesma coisa. Eu olho pra Fulano e penso "se Fulano consegue é porque é possível, né". Ignorando completamente que fulano NÃO TEM O TRAUMA. Sendo que eu não necessariamente tenho consciência do trauma, e eu não sei se Fulano de fato não tem o trauma. O que eu sei é apenas que Fulano consegue e eu não consigo.

Se eu soubesse que Fulano tem alguma condição que torna alguma situação mais fácil pra ele do que pra mim, será que eu pegaria a metafórica cadeira que me ajudaria a lidar com a tal situação?

Eu estou agora num curso com pessoas de vários lugares, várias realidades socioeconômicas, que estavam fazendo várias coisas diferentes antes de chegar aqui. Algumas pessoas estão fazendo um mestrado em engenharia em paralelo, outras fizeram 1 ano em Harvard antes de chegar aqui, tem quem acabou de concluir um doutorado no MIT e emendou nesse curso, tem quem veio de um sabático, e tem aqueles que, como eu, vieram direto do mercado de trabalho.

Eu não consigo dar conta das leituras todas que preciso fazer. Eu tenho meus privilégios (como um relacionamento tranquilo, alguém que divide as tarefas comigo em casa, um estágio garantido na empresa que trabalho, um conhecimento de estatística que me ajuda com uma das matérias mais tecnicamente difíceis), outras pessoas têm os delas (dinheiro, família perto, familiaridade com o estilo das disciplinas, ou qualquer outro aspecto que nem passa pela minha cabeça) e isso é tudo INVISÍVEL.

Apenas isso que tenho a dizer - foi minha grande realização da semana na terapia

terça-feira, agosto 6

Quem olha sou eu

Como a visão na câmera antes da foto

Vai sair assim, só fotografar

Ih, mexeu

Vai de novo?


A foto já foi, e foi assim mesmo

Revela se quiser (iiiiih, terapia nelas)


Mas sobre o futuro:

O futuro nunca está


Tá meio ali mas não tá

Tá meio ali

Mas não tá

Não tá...

...até que é tudo o que há


O que era agora já foi

O que vinha também já foi

Porque tudo vai 

Nada está, mas tudo fica

E vai no tempo

E guardo no peito

E saúdo na memória

E saudade nos olhos

E, quem sabe, volta

Voltarei


Na volta, diferente

Diferente eu (nova e mais velha)

Diferente espaço (velho e só velho)

Diferente tudo (quem olha sou eu)

Mas tudo igual (quem olha sou eu)

Menos eu, porque quem olha sou eu

Quem ficou não congelou?

Estátua!


Só dá pra acompanhar uma vida por vez, calma lá


Eu já falando do futuro no passado

E o presente, quem tá aqui?

Quem conduz o agora se eu piloto o imaginário?

Quem está aqui se quem olha sou eu?

Click!

Se bobear, perdeu

quarta-feira, janeiro 17

lembrei que gosto de escrever

 eu lembrei que gosto de escrever 

e me deu vontade de chorar

porque faz tempo que eu nao escrevo


não sei onde espalhar palavras para que elas cheguem a qualquer lugar

que tipo de ferramenta é essa que nos conecta por texto

longo?

a quem interessa?


encostei a cabeça no travesseiro e comecei a chorar

não exatamente assim 

mas parecido


é que lembrei da quantidade de fotos que tirei ao longo dos anos 

e nenhuma destas revelei 


pouquíssimas deixei acessível a quem interessava


muitos encontros 

momentos em família


memórias da gente junto

vovó sorrindo, contemplando o tanto de gente


eu lembro que eu gostava muito de conversar com a minha mãe 


comecei a chorar

porque não respondi à sua última mensagem 

e faz tempo que nao telefono

mesmo sentindo muita saudade 


eu to muito cansado do final do ano 

da virada pra cá, tô bem quietinho

entocado, na minha toca

processando, sentindo tudo

bem devagarinho

entendendo meu ritmo

aprendendo meu cuidado


ser sozinho é muita coisa


vez por outra

hoje mesmo

tá valendo mais arriscar um processo alérgico

do que dormir sem a companhia dos meus gatos


vique